GUEST POST: RELAÇÕES CLANDESTINAS
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GUEST POST: RELAÇÕES CLANDESTINAS


Todo mundo está falando da entrevista de Silas Malafaia a Marília Gabriela (é possível vê-la aqui), mas estou sem tempo e estômago pra ver o programa e escrever sobre ele. 
De toda forma, vocês já sabem o que este pastor evangélico, o terceiro mais rico do Brasil, segundo a Forbes, com fortuna avaliada em 300 milhões de reais, disse contra a homossexualidade. É o mesmo que ele sempre fala, e parece ser a base do seu sucesso. Sem o discurso homofóbico, ele teria tantos fiéis? Seria chamado pra entrevistas na TV? Assim como tantos outro, Malafaia fez seu nome em cima da homofobia, que ainda é um negócio próspero. 
Eu digo ainda porque não tem jeito das igrejas se intrometerem no Estado por muito mais tempo. Não tem como o Estado continuar negando direitos básicos a milhões de pessoas, baseando-se na sua orientação sexual. Isso é totalmente inconstitucional, como o judiciário vem demonstrando a cada julgamento. 
Não sei se algum dia vamos acabar com os preconceitos, mas um dos antídotos contra a homofobia é fazer com os heteros percebam que convivem diariamente com lésbicas, gays, e bissexuais, e que a orientação sexual de alguém não faz ninguém pior ou melhor. 
Este é um relato poético e comovente do A, que mostra como é ruim viver numa sociedade que não só te xinga desde a infância, como tampouco reconhece o seu amor como legítimo.

Hoje fui pegar meu marido na pós-graduação e ele disse a uma colega de classe, a quem demos carona, que somos irmãos. Não é a primeira vez que isso acontece. Para um colega de classe do mesmo curso ele disse uma vez que somos primos. Espero que o colega e a colega, bem como nós dois, nunca estejamos todos juntos numa mesma situação. A vida às vezes nos prega cada peça.
Mas desta vez me senti incomodado. Um cansaço de me esconder... Quando ele me liga e há alguém comigo no meu local de trabalho, minha chefe, minha colega, o faxineiro, não mando beijo e não raro sou bastante seco, para ser breve. Quando ele está trabalhando muitas vezes age da mesma forma. Não manda beijos. Fala comigo como se fôssemos apenas bons amigos.
Quando estamos só eu e ele às vezes falamos como crianças. Novela vira vevela. Banho vira bambam. Sovaco vira vavaco. Dormir vira mimir. Comida vira mimida. Sorvete, vêvete. Ivete, Vévete. Sobremesa, memesa. Perfume, fufume. Camisa, mimisa. Goiabada, babada. Chocolate, coiate... Mas, quando há alguém por perto, algum forasteiro no nosso mundo, tudo muda, e não sobra espaço sequer para mandar um beijo no final de uma conversa telefônica.
Os heteros não passam por esse tipo de problema. Podem mandar beijo um para o outro em qualquer despedida. A não ser que sejam amantes. Relações clandestinas. Acho que, dos heteros, os únicos que podem ter alguma ideia de como nós gays  de vez em quando agimos e às vezes nos sentimos são os amantes de pessoas já casadas.
Hoje me passar por irmão me incomodou profundamente. Não sei por quê. Eu já poderia estar acostumado com isso.
Cheguei em casa, vim para o computador, para passar o tempo e esperar a cerveja gelar. Depois de bebê-la veio uma vontade de chorar.
Estou me lembrando do tempo de escola. Sentava-me sempre próximo à porta. Nunca na primeira carteira. Perto demais do professor. Se ele ou ela me fizesse alguma pergunta? Era melhor me precatar.
Gostava de me sentar na segunda fila mais próxima da saída, na terceira carteira.
O final das aulas era anunciado por uma música religiosa. O colégio era católico. Parecia um clarinete tocando a música.
Quando era anunciado o final da última aula eu quase saia correndo. Não corria, mas ia na velocidade mais rápida que eu que podia logo abaixo da corrida. Será que aquilo era um trote? Talvez.
O trote do veadinho.
Já fui chamado de tanta coisa no meu tempo de colégio. Tanta coisa é exagero. "Gayroto criado por vó".
Havia um carinha, que era mais velho que eu uns quatro anos (era bonito e gostoso mas burrinho...), jogador do time de vôlei (o colégio em que estudava era forte nos esportes), que de vez em quando me chamava assim, "gayroto criado por vó".
Pior é que eu desejava aquele filho da p*ta. Estudamos na mesma sala durante anos. O desejei várias vezes, apesar de ele zombar de mim.
Quando eu já estava na universidade uma vez o vi num bar gay. Será que ele é ou era assim tão hipócrita? É muitíssimo possível.
Na hora de voltar pra casa adorava pegar os corredores ainda vazios. Era um colégio grande. Muitos alunos.
Eu sempre chegava cedo. Poucos colegas na sala. O ritual da invisibilidade era importante para mim.
Todo dia era assim. Chegava cedo e, quando tocava a musiquinha da hora de ir embora, saía andando na maior velocidade que podia.
Engraçado, no trabalho ainda é assim. Prefiro chegar quando tudo ainda está vazio de gente.
A diferença é só na hora da saída. Às vezes espero uns 10, 15 minutos para dar tempo de os outros irem embora e eu pegar os corredores desertos.
Por falar em deserto, me lembrei de O Deserto do Amor, romance de François Mauriac que li há muitos anos, ainda na universidade: "Não há um só amor, uma só amizade, que atravesse a nossa vida sem com ela contribuir para toda a eternidade".
Será que é verdade? Não sei por que estou me lembrando disso. Deve haver uma razão. Ou não.
Adoro espaços amplos e vazios. Vazios de gente.
Sinto-me muitíssimo bem quando vou ao cinema nos feriadões. É o meu programa favorito nos feriadões.
As ruas vazias de carros. O cinema tranquilo.
Quando eu era adolescente adorava passar despercebido. Hoje em dia, mesmo mais velho, ainda tenho uma enorme dificuldade para me deixar ser visto.
Eu e meu marido fizemos aniversário de três anos. Até queria me casar. Mesmo que me case, não vou pedir a licença-núpcias.
Como é que eu vou dizer a minha chefe? Chefinha querida, me casei semana passada, não convidei a senhora, embora tenha tido vontade, e vou passar uma semana sem vir trabalhar. É minha licença-núpcias.
Os heterossexuais não precisam se preocupar com essas coisas. A publicidade é a maior e a mais ampla possível.
Já o casamento de gays...
Meu sonho é me casar com dois tenores cantando "O dueto das flores" de Delibes.
A gordinha sou eu.




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