GUEST POST: O BLOG ME AJUDOU A SUPERAR O VÍCIO EM COCAÍNA
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GUEST POST: O BLOG ME AJUDOU A SUPERAR O VÍCIO EM COCAÍNA


O V. me enviou este relato.

Hey Lola, meu nome é V., tenho 20 anos, e estou pra te escrever esse email há uns quatro meses, mas faltou tempo e coragem, um pouquinho dos dois. 
Enfim, minha história com seu blog é um pouco diferente das outras que chegam até você. Bem, conheci seu blog há três anos, quando estava no cursinho e um amigo sociólogo me indicou, e foi em você que eu descobri as razões que me incomodavam sobre a sociedade mas que eu não sabia como explicar. 
Na época eu tinha 17 anos, tive uma formação até então liberal, mas ver você falando dos "humoristas" me afetou -- eu finalmente tinha encontrado uma opinião como a minha, um argumento para debater com os reaças. Esse é meu primeiro agradecimento, muito obrigado! 
Mas Lola, nem tudo são flores na vida. Eu, quando criança, fui abusado durante cinco anos por um primo quatro anos mais velho do que eu, e bem, nunca contei isso a ninguém. Na verdade eu sempre pensei que, se eu não reagia, era porque de certa forma eu gostava. Sabemos que não é a verdade, mas essa questão foi resolvida com esquecimento. Eu deixei essa memória no limbo da minha mente, e não sei até que ponto isso me afetou. 
É agora que começa a minha história mais profunda com suas palavras, que às vezes nos abraçam como ninguém poderia fazer, esse é o seu dom. Mas o que aconteceu foi que com 17 anos eu montei uma banda com um amigo de colégio e conheci a cocaína. Quando se tem 17 anos, o peso da sociedade nos ombros, a necessidade de acabar o colégio e começar uma faculdade é enorme, e a cocaína foi meu escape perfeito, eu usava e me sentia melhor, mais leve, sem nenhum problema. Com a cocaína eu tinha a ilusão de ser uma pessoa mais forte, a cocaína era meu amuleto da sorte. 
Além da cocaína eu comecei um relacionamento autodestrutivo com esse meu amigo de banda. Eu sempre me senti bissexual, e isso sempre foi um problema, afinal -- dizem -- não é possível gostar de homens e mulheres na mesma medida. Eu posso afirmar com todo o meu coração que é possível sim! Aliás, os bissexuais sofrem preconceito das próprias minorias muitas vezes, mas esse é outro assunto. 
A verdade é que com 18 anos eu estava completamente viciado em drogas e num relacionamento homossexual muito destrutivo para nós dois. Foi quando, por um descuido meu, minha mãe pegou meu celular e descobriu mensagens minhas pedindo drogas a esse companheiro. Foi aí que minha vida desmoronou. Como você deve imaginar, não é fácil para uma mãe descobrir que seu filho é um viciado, e para minha surpresa, minha mãe, sempre tão liberal, ficou muito mais revoltada por eu estar envolvido com um homem do que por eu estar usando cocaína! 
Sim Lola, eu gastava 2 mil reais por mês com cocaína, mas minha mãe desmoronou quando descobriu que eu estava com outro cara. Isso foi muito forte pra mim, pra todo mundo, e minha família perfeita e invejada por todos havia desmoronado, e justamente com drogas e um filho gay. Eu me expliquei como bissexual, mas não adiantou, então eu fiz o pior: eu menti, eu disse pra minha mãe que eu não era nem mesmo bi, que por culpa da droga eu havia feito coisas que não queria, que aquele não era eu. 
Bem Lola, minha mãe engoliu, quis se enganar, ou seja lá o que for. Eu de fato terminei meu relacionamento com o rapaz, porque não podia mais continuar com aquilo, não pelo relacionamento, mas pelas drogas, e agora eu tinha o pior pela frente: me livrar do vício. Meu pai me perguntou se seria necessária uma internação, eu disse que não. Mas Lola, eu trabalho num espaço de livre circulação de drogas e, pra ajudar, eu estava num horário na madrugada, onde não havia ninguém. Nada me impediria de me drogar. 
Mas eu não podia, não mesmo. Foi então que eu descobri as suas resenhas de filmes, e aquilo me ajudou mais do que qualquer tratamento jamais ajudaria. Eu passava horas na madrugada lendo suas críticas, muitas vezes chorando, tremendo, sofrendo sozinho com uma abstinência terrível. Era nessa hora, quando a falta da cocaína literalmente doía, que você me abraçava com as suas palavras. 
Eu lia suas críticas e pelos cinco minutos que eu lia, a dor passava, a vontade passava, então quando voltava, eu lia mais e mais críticas. Foi assim por dois meses, eu li todas as suas críticas, eu sorteava a letra e lia todas, e após dois meses já não doía mais, já não me fazia querer morrer por não cheirar. 
Sem remédios, sem psicólogos, só eu, um computador no trabalho e suas críticas. E eu nunca mesmo vou poder mensurar em palavras o quanto eu sou grato a você por isso, nunca mesmo. 
A vida não é um conto de fadas, Lola, então minha família continua fingindo que não sabe que sou bissexual, esqueceu o passado, e prefere acreditar que eu namoro uma menina, que na verdade é só uma grande amiga. Eu sinceramente não os culpo e penso que se pra eles é melhor assim, que seja, eu vivo hoje muito bem sem nenhuma droga, sem nenhum relacionamento destrutivo, seja ele hétero ou homo, e sem banda, haha, e vivo com a certeza de que eu sei quem sou e do que gosto, e eu gosto de meninos e meninas da mesma maneira. Olho pra uma mulher bonita quando passa, e olho pra um cara bonito quando passa, simples assim. 
Estou começando a pensar em fazer terapia pra resolver algumas questões, mas definitivamente na pior fase da minha vida, a única pessoa que eu pude contar foi alguém que eu nem conhecia, e que nunca me viu na vida. Foi você, Lola, e como eu disse, nunca vou poder te agradecer por isso. Continue fazendo o que você faz, porque você faz a vida de milhares de pessoas melhor, tenha sempre certeza disso, obrigado.
Um abração, Lolinha, e um muito obrigado do tamanho do seu amor por chocolate!

Meu comentário: Muito obrigada por todo o carinho, V.! Devo dizer em minha defesa que já me acusaram de muita coisa na vida, mas nunca de curar alguém do vício das drogas! Fico feliz que minhas inocentes crônicas de cinema tenham te ajudado. Agora é vida pra frente, querido! Tudo de bom pra você, e muito agradecida pelo suprimento vitalício de chocolate (que cada um tem o seu vício). 
E ó, já que minhas crônicas fazem milagres, acho que vocês bem que podiam comprar os últimos exemplares do meu livrinho.




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