GUEST POST: "NÃO NOS COMPLETAMOS. NÓS DUAS SOMOS INTEIRAS"
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GUEST POST: "NÃO NOS COMPLETAMOS. NÓS DUAS SOMOS INTEIRAS"


Hoje, dia 29 de agosto, é uma data importante: o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica e Bissexual. 
É importante porque, como sabemos, lésbicas e bissexuais muitas vezes costumam ser menos visíveis até no movimento LGBT, que dizer no resto da sociedade. Por causa disso, hoje está acontecendo uma blogagem coletiva para marcar a data (aliás, a semana toda).
Pra comemorar, pedi pra uma jovem leitora, a D., escrever um guest post pra cá. Só que a espertinha passou a missão pra sua namorada, a M. E ficou uma delícia. Eu li este relato com um sorrisão nos lábios. 

A Lola convidou minha namorada (a D.) pra escrever um guest post. Acabou que sobrou pra mim. E este relato é sobre como duas saudáveis garotas de 16 anos acabam namorando. Bom, foi assim: eu e D. estudamos juntas há 2 anos e meio. Não teve nada de amor à primeira vista ou essas coisas (ela tinha um namoradinho; eu achei ela meio metida). Só que os nossos grupinhos de amizade se fundiram e a gente acabou se aproximando cada vez mais. Uma amizade bem "normal", sabe?
De amigas, nós passamos pra super amigas para sempre. Foi aí que nossa escola entrou em greve e eu fiquei um mês bem ocioso em casa. Mente vazia, oficina do diabo. Eu, que sempre duvidei da minha heterossexualidade, fiquei com muita saudade da D. E com tempo de sobra pra começar a desconfiar disso. Já fiquei com garotos, já gostei de garotos, mas ao mesmo tempo eu tinha aquela curiosidade de como seria beijar uma garota e tudo mais.
Fiz o que qualquer uma teria feito: procurei no Google. “Será que sou lésbica?”, “Como saber se sou lésbica?”, “Estou apaixonada pela minha amiga?”, “Lésbica ou bissexual?”, e daí pra frente. Entrei em mil sites, fiz mil testes (sim, existem testes), e a conclusão foi que eu muito provavelmente era lésbica. Tá, whatever. O problema foi que nesses sites sempre tinha o relato da lésbica-adolescente-que-se-descobriu-lésbica-porque-tá-apaixonada-pela-melhor-amiga. Pelos relatos deu pra sacar que, estatisticamente falando, TODA lésbica já se apaixonou por uma amiga e que, ainda estatisticamente falando, TODA vez dá merda.
Não foi uma descoberta das mais animadoras. Decidi simplesmente não fazer nada, esperar a paixonite passar. Sabe, eu aceitei ser lésbica, e comecei a ler sobre o assunto, só não aceitei estar apaixonadinha pela amiga. Voltaram as aulas, a gente se abraçou e continuou a vida normalmente. 
Quase. Justo nessa época saiu na Veja aquele texto sobre cabras e espinafre (aquele!) e eu, já lésbica o suficiente pra me sentir completamente ultrajada, li várias críticas (incluindo a sua, Lola, e foi aí que eu descobri o seu blog e virei feminista (Awn!) e mandei pra D. pra ver qual seria a reação. E foi a melhor possível. 
As minhas conversas com ela passaram a ser mais "sérias"; a gente virou feminista juntas, e começamos a descobrir (e criticar) a homofobia, o classismo, o machismo, o racismo... A gente se entendia perfeitamente. E fomos evoluindo, uma ajudando a outra. Acho que foi aí que nos grudamos de vez. Muita gente perguntava se éramos irmãs, e muita gente brincava que éramos namoradas.
Enquanto eu estava quase que completamente apaixonada mas ainda negando até a morte, apareceram outros na disputa (é claro, romance adolescente só vira história se for triângulo amoroso, né). Beleza. I can do it. Mas foi só quando (nesse carnaval) ela ficou com um cara (mais um vampiro, já que o cara tem 300 anos. Opssss, recalque) que eu percebi que a) gostava mesmo dela e b) tinha que fazer alguma coisa, senão nunca ia dar nada e eu ia me culpar pro resto da vida.
Resolvi falar. Pensei que não tinha como eu ficar pior. Se ela não gostasse de mim do mesmo jeito... Bom, problema dela. E falei. Gaguejando e quase chorando, mas saiu. “Olha, não sei se você percebeu, mas eu sou meio que lésbica. E eu... meio que... gosto de você”. Bem romântico. E aí começou a conversa mais aberta que eu já tinha tido até então. Foi como se a última parede entre nós tivesse ruído. Foi libertador poder falar em voz alta como eu era sapatão mesmo, como gostava dela mesmo, como tinha percebido, como tinha aceitado e como tinha criado vergonha na cara o bastante pra falar. 
Eu gostaria de dizer que nessa hora nós nos olhamos nos olhos e nos beijamos apaixonadamente. Eu gostaria, mas... sinto muito te desapontar. Ela me enrolou dias e mais dias. A eterna história de "Será que estraga a amizade?". Ok. Duas semanas depois (Duas. Semanas.) nós ficamos, numa sessão de cinema inesquecível não só pra nós como também para os garotos do nosso lado. [Notinha curiosa da Lola: Quero saber o filme!]
E estamos juntas até hoje. Ainda no processo de aprender e evoluir juntas. Nós não somos “assumidas”, só pros amigos mais próximos, mas teria que ser cego pra não perceber alguma coisa. As fofocas já correram pela escola e, olha só, os amigos machistas e homo/lesbo/trans/bifóbicos até que começaram a repensar um pouco.
Da minha parte só posso dizer como é maravilhoso olhar pra pessoa do seu lado e saber que ela não apenas te aceita ou tolera, mas te entende. Numa das cartinhas que escrevi pra ela (ah, o amor juvenil) eu disse: “Nós não nos completamos. Nós duas somos inteiras. Só precisamos da outra pra perceber isso” ou algo assim. E realmente acho que isso é um ensinamento válido, mesmo partindo de uma garota de 16 anos.
E, Lola, se é pra falar de visibilidade lésbica, acho que não posso falar nada. Afinal de contas, eu e D. não somos visibilizadas. Duas adolescentes menores de idade completamente dependentes dos pais. Nós nos escondemos. Da família, dos amigos, de conhecidos que talvez estejam perto e não podem nos ver, e até de desconhecidos. 
Vergonha? Não, jamais. Medo? É, talvez um pouco. Ou quem sabe nós só estamos esperando o momento certo pra chegar com nosso caminhão passando por cima de todo preconceito.




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