GUEST POST: TINHA VERGONHA DO MEU CABELO
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GUEST POST: TINHA VERGONHA DO MEU CABELO


Num post (do ano passado!) em que respondi a perguntas sobre a minha (falta de) vaidade, uma leitora, a Márcia, deixou um comentário muito instigante. Perguntei pra ela se poderia transformá-lo em guest post, ela deixou... e eu coloquei o troço em algum lugar do meu computador e esqueci dele pra toda a eternidade. Mas agora o encontrei entre alguns arquivos antigos, e taí. Uma bonita história de auto-aceitação.

Minha mãe tem cabelos lisos, não um liso lambido, mas lisos. Meu pai não, mas os dele sempre foram bem curtinhos. Tenho 3 irmãos, dos quais duas meninas, e só eu nasci com cabelos crespos, a la Vanessa da Mata, herança genética da mãe de minha avó paterna...
Agora veja a bronca. Meu pai não deixava de comentar a beleza de uma mulher com cabelos extremamente lisos (lembranças de uma paixão frustrada na adolescência, dizem), e minha mãe reclamava muito quando desembaraçava minhas madeixas. Na minha cabecinha de menina, meu cabelo era um senhor problema.
Vivia numa cidade do interior do nordeste. Pobres, estudamos os filhos num colégio de freiras, nos primeiros anos, bolsistas, claro. O fato é que, até começar a me destacar na escola como “uma aluna inteligente” (uma grande merd... esses rótulos...), minha marca primeira eram cabelos crespos, era o que era pontuado em mim, no universo que me cercou nesses primeiros anos de vida, e nem precisava dizer que a marca era negativa, muito negativa. Sem falar nessa coisa complicada de identificação com familiares e a gente ser tão diferente fisicamente, sem ter um reforço positivo pra essa diferença.
O meu reforço positivo era estudar e não ser bonita, porque na minha pequena cuca eu era feia e ponto, mas fazia coisas bonitas, desenhos, pinturas, e demais lições escolares, e isso era suficiente para ter as pessoas ao meu redor. Não preciso dizer que vaidade com a aparência eu não tinha (porque vaidade não existe apenas em função da aparência, convenhamos).
Na adolescência, eu não tinha grana nem muita paciência pra salões de beleza, mas meu cabelo precisava ter uma forma (pra não chamar tanta atenção), assim relaxava pra baixar o volume, usando-os encaracolados.
Aí, aconteceu de me mudar para Recife. Mundo estranho. Eu estava fora do meu ninho, mas cercada dos mesmos amigos, que buscavam, como eu, um curso superior. Fora da minha turma de amigos era muito difícil não me sentir um peixe fora d’água. Aos poucos, a mudança veio, principalmente quando saí da universidade. Nós, os amigos do interior, fomos nos dispersando aos poucos, seguindo profissões diferentes e consequentemente frequentando diferentes ambientes e pessoas. Perdi mesmo um pouco a referência no meio dessas outras pessoas. Eu não era a Marcinha da turma. Fora desta eu era absurdamente tímida, por motivos que não convém por ora. Entrei na noia de cabelos lisos, maquiagem, pra ser vista em outros núcleos. Mas eu não estava em mim, entende? O-ou, algo errado no ar...
Alguns anos de terapia (por motivos fora de questão) e as coisas começaram a mudar... Sabe aquela praia evitada por eu não resistir ao banho de mar, poderoso, maravilhoso mar, por causa da química nos cabelos? Sabe aquela natação evitada por cabelos cobertos até o talo de tanta química não resistir ao cloro? Ah, a tesoura do desejo! Vou usá-la. Preciso eliminar os fios compridos cobertos de química que irão se estragar... Adoro água! Meu deus, como conseguir evitá-la por tanto tempo? Que absurdo! E não é que descobri que sou bela e maravilhosa? Olho os meus cachos da adolescência e me vejo tão bonita!
Agora, maquiagem, a-d-o-r-e-i, acho que faz parte do processo de me sentir bonita, não por ela em si, mas funciona como uma brincadeira, uma forma de demonstrar que dá pra ser diferente a cada dia se eu quiser, até mesmo quando não tô a fim de usar, sei lá, me sinto numa mudança tão constante, maquiagem e moda são recursos mesmo pra externar isso... e dá pra não abrir mão do conforto que faço questão. “Quanta mudança alcança nosso ser, posso ser assim, daqui a pouco não....” diz uma música. Pois é, é muito difícil sair de um modelo introjetado. Não quer dizer que a gente não perceba esse modelo. Acredito até que a gente consegue fugir de alguns, mas de todos? Não acredito. Melhor não encucar...




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