GUEST POST: VAGINISMO, UMA DISFUNÇÃO SEXUAL TRATÁVEL
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GUEST POST: VAGINISMO, UMA DISFUNÇÃO SEXUAL TRATÁVEL


Ano passado, publiquei um guest post anônimo sobre um assunto que eu mal tinha ouvido falar, mas que atinge 4% das mulheres: o vaginismo. O vaginismo é uma disfunção que ocorre quando os músculos da vagina e do ânus se contraem involuntariamente, impedindo a penetração até de um dedo. 
Em muitos casos, isso não acontece apenas na relação sexual, mas também na tentativa de se colocar um absorvente interno ou o espéculo num papanicolau. A dor é enorme, e pra que esse problema se resolva e a pessoa possa ter uma vida sexual plena, só com muita paciência e terapia. Felizmente, o vaginismo é uma das disfunções sexuais mais tratáveis que há, com taxas de sucesso de quase 100%.
Vale lembrar que o vaginismo pode ocorrer não apenas com mulheres cis (ou seja, mulheres que sempre foram reconhecidas como mulheres), mas com todas as pessoas com vagina, incluindo homens trans*.
Até hoje recebo emails de jovens querendo saber mais sobre essa disfunção tão comum e, ao mesmo tempo, tão tabu. Pouca gente fala nisso! Esses dias veio um email da S.A, que pediu que eu escrevesse mais sobre o tema. Eu disse que sabia quase nada do assunto, e pedi que ela escrevesse. Acho que S.A fez um ótimo trabalho.

Antes de começar a falar sobre vaginismo, gostaria de agradecer esse espaço maravilhoso que a Lola deixa livre para que muitos possam desabafar e contar suas experiências.
Para quem ainda não conhece essa doença: vaginismo é a contração involuntária dos músculos próximos à vagina, dificultando ou até impedindo a penetração do pênis ou de qualquer objeto.
O grau da dificuldade de penetração varia de pessoa para pessoa. Tem mulheres que não conseguem colocar nem um cotonete. Muitas vezes a mulher está sim com vontade de fazer sexo e não consegue, já que a contração é involuntária.
Descobri no começo desse ano que sofria de vaginismo, após uma consulta ginecológica com uma ótima profissional, que me tranquilizou bastante. Tenho 19 anos e iniciei minha vida sexual ano passado com meu primeiro e atual companheiro. Nunca havia me relacionado com ninguém antes dele. Só me lembro de uma experiência não muito agradável naquela costumeira pressão de “perder o BV” (Boca Virgem, termo horrível, não?), aos 12 anos. Não sei se posso considerar o ocorrido como um beijo, pois acabei me desvencilhando do menino aos tapas, já que ele quis avançar bem mais do que um beijo, sem mesmo tê-lo feito!
Passei por situações que quase todas as mulheres já passaram. Como já foi dito aqui no blog, são aquelas “histórias de horror”, mas felizmente não passei por nenhum abuso efetivo. Não tenho um bom relacionamento com meu pai, porém tenho uma figura masculina muito forte em minha vida: meu falecido avô. Não venho de família religiosa, muito menos sou religiosa. E meu namorado nunca me pressionou em nenhum sentido. Ou seja, não havia tantos motivos para, inconscientemente, temer o ato sexual, mas isso aconteceu.
Tive dificuldade de me entender e conseguir explicar para o meu namorado o que estava acontecendo. É um assunto pouco comentado por mulheres, e a maioria dos homens, infelizmente, não sabe nem que isso possa existir.
Por mais que seja dolorido ter que explicar várias vezes, sem o compreendimento da outra parte, a relação não pode se manter.
O que quero dizer com o meu relato é que, óbvio, você tem que entender o motivo que a levou a ter essa contração involuntária que está intimidamente ligada com o seu inconsciente, mas não se cobre caso não tenha passado por histórias de horror. E, muito pior, não pense que não é vaginismo e sim “frescura”, que é sua obrigação transar mesmo sentindo dor.
Eu, que descobri ter vaginismo depois de me tornar feminista, pensava muitas vezes que era responsável, mesmo sem pressão de parte do meu namorado, e me deixei levar, pensando que, milagrosamente, a doença passaria um dia, sem nenhum tratamento. A sociedade faz isso, nos cria para ter essa obrigação, o típico medo velado de “perder a pessoa amada” ou “o que ele não encontra em casa vai procurar na rua”.
Antes de qualquer coisa, você deve ir a um(a) ginecologista de sua confiança. A minha me deu um conselho bem simples e básico: primeiro você tem que criar uma relação com você. Sei que você pode pensar que é brincadeira, mas é um conselho médico: masturbe-se sozinha, vá tentando inserir um dos dedos até chegar ao terceiro. Quando isso acontecer, comece a fazê-lo com a ajuda do seu parceirx, até que se sinta confiante o suficiente. Aja como se ainda não tivesse tido relação sexual. Faça tudo de novo, desde o primeiro beijo, e deixe as coisas irem ocorrendo vagarosamente.
É de extrema importância que, junto com o acompanhamento ginecológico, haja o acompanhamento psicológico. Muitas vezes os traumas que temos, principalmente os inconscientes, podem ser resolvidos indo à psicólogx ou sexólogx.
Eu estou melhorando aos poucos. É preciso comemorar cada conquista, senão um sentimento de ansiedade acaba vindo à tona. Afinal, aposto que todo mundo quer viver sua vida sexual livremente, não é?
Se você não tem um parceiro ou uma parceira, não fique triste pensando que não vai se curar. Pode fazer os exercícios sozinha e, quando encontrar alguém que lhe transmita confiança e, claro, desejo de transar, conte tudo sobre você e deixe a relação sem mentiras. Pode-se também recorrer aos vários vibradores indicados pelx ginecologista, sem precisar se relacionar com ninguém, e ir aumentando o tamanho conforme seu avanço.
Caso você tenha parceirx, converse o quanto puder, e informe a pessoa que está ao seu lado, pois se ela se negar a ajudar, infelizmente só vai atrapalhar. Muitas vezes vem um sentimento de cobrança, inferioridade, insegurança da parte da mulher que sofre de vaginismo, e nessa hora precisamos de alguém que diga o quanto estamos indo bem, transmita segurança e compreenda nossas dificuldades.
Se ame, entenda o funcionamento do seu corpo e faça os exercícios sempre quando tiver tempo livre. Eles ajudam bastante.
Aqui seguem alguns links que acho essenciais (infelizmente alguns só em inglês): esse site tem tudo sobre vaginismo. Indico imprimir isso e entregar para seu parceirx. Aqui há um bom relato sobre os exercícios de Kegel, que foralecem os músculos pélvicos.
Espero ter ajudado!




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