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MELHORES DE 90 SÃO SÓ NOVE
Como agora é final de ano, final de século, final de milênio (apesar das comemorações passadas antecipadas), final de tudo, menos do mundo, decidi fazer algo quase tão tradicional quanto peru de natal (como estamos rimando hoje): uma lista. Mas, antes de começar, faço minhas as palavras do meu irmão para explicar porque não gostamos de listas.1.elas tendem a ser estúpidas 2.estão na moda por causa do filme e livro "Alta Fidelidade"
3.há sempre a inclusão de algum item para chocar
4.aborto eutanásia pena de morte ratinho
5.elas vão ficando repetitivas
6.e dizem as mesmas coisas de novo
7.são meio redundantes
9. e às vezes nem sabem contar
Isto posto, vamos à lista dos melhores filmes da década de 90. Só incluí títulos falados em inglês. Se não fosse este critério, poderia aceitar "Central do Brasil" e uma ou outra produção iraniana como "Filhos do Paraíso" e "Gosto de Cereja". Vamos em ordem alfabética, que pelo jeito é mais fácil que os malditos números. Beleza Americana (99) – quando o filme foi lançado, todo mundo se curvou. Com a badalação e a vitória no Oscar, os críticos passaram a falar que não é tudo isso não. É sim. Uma excelente comédia – com toques dramáticos, mas você ri bem mais do que chora – sobre a crise dos 40, a tragédia da classe média, e os valores universais, mais do que americanos. E tem o Kevin Spacey que, junto com o Edward Norton, foi a grande sensação dos 90. Ed Wood (94) – Se você não viu esta obra, tudo bem. Ninguém viu. Porém, a história mezzo verídica do pior diretor de cinema de todos os tempos e sua relação com Bela Lugosi (quem? Uma espécie de Boris Karloff. Quem? Eu desisto) é uma declaração de amor à sétima arte e não pode ser ignorada. O diretor Tim Burton faz de um bode expiatório um visionário. A cena (fictícia) em que o pior encontra o melhor, Orson Welles, já vale o filme. É inevitável: quem ama cinema apaixona-se por "Ed Wood".
Fargo (97) – pra ficar num lugar comum, esta é a obra-prima dos irmão
s Coen. Agora, o choque: foi só isso que eles fizeram de ótimo nesta década ("Barton Fink" e "Ajuste Final" são bons; o resto é ruim). Esta comédia de humor negro não é para todos os gostos. Não é qualquer um que vai se entusiasmar com as trapalhadas de um marido que contrata dois palermas para sequestrar sua própria esposa. E, lá pelo meio, entra uma detetive grávida. Tudo isso e mais o sotaque charmoso (pra ser educada) do pessoal de Minnesota transformam "Fargo" em entretenimento de primeira.
Os Imperdoáveis (92) – Definitivamente não sou uma das fãs incondicionais do Clint Eastwood, nem acho que este anti-western o redima das besteiras que fez, faz e fará. Aliás, entre os mais de 20 filmes dirigidos por ele, eu gostei de três: "Perversa Paixão", "As Pontes de Madison" (quiçá "Coração de Caçador") e, claro, "Imperdoáveis". Este último realmente é magistral.
Pulp Fiction, Tempo de Violência (94) – Não tem jeito, Tarantino marcou a década. O ex-atendente de locadora dirigiu três filmaços: "Pulp Fiction", "Cães de Aluguel" e "Jackie Brown". É verdade que também esteve envolvido em bombas como "Um Drink no Inferno" e "Grande Hotel", o que tira um pouco de seu brilho. A trama pesada e original de "Pulp Fiction" (com uma cena de estupro que está para os homens da década de 90 o que "Amargo Pesadelo" significou nos 70), além de ressuscitar John Travolta, foi depois "homenageada" – ou seja, copiada – até dizer chega. Mas isso não é culpa do Taranta.
O Silêncio dos Inocentes (91) – O único terror a ganhar o Oscar e o terceiro filme na história a ganhar os cinco prêmios principais (filme, ator, atriz, diretor, roteiro. Os outros dois, se você não se aguenta de curiosidade, foram "Aconteceu Naquela Noite" e "Um Estranho no Ninho"), este é um suspense instigante, bem atuado, bem contado, com diálogos inventivos. A gente perdoa até que faça propaganda do FBI. O psicopata Hannibal Lecter, conhecido como "Hannibal, o Canibal", não sai mais do inconsciente coletivo. Um grande filme. O resto é silêncio. Um Sonho de Liberdade (94) – Mesmo sem o brilhantismo dos seus colegas da lista, este drama de prisão cativa o suficiente para garantir seu lugar ao sol. Tudo funciona. Talvez pudesse ser um tiquinho mais curto. No mínimo, nos faz refletir sobre nossas intenções ao mandar um homem pra cadeia – reformá-lo, castigá-lo ou afastá-lo? Deve ser o filme de maior apelo popular desta lista.
Trainspotting – Sem Limites (96) – Primeiro, o trio escocês nos deliciou com "Cova Rasa". Depois, se superou com "Trainspotting". Infelizmente, após ser cooptado por Hollywood, veio ladeira abaixo. Forneceu-nos "Por uma Vida Menos Ordinária" e, no fundo do poço, "A Praia". Bom, mas "Trainspotting" é bárbaro, e é injusto reduzi-lo a um filme sobre drogas. Trata-se das opções que fazemos na vida. O narrador, o soberbo Ewan McGregor, já começa criticando nossas escolhas. E termina afirmando que vai ser igualzinho a nós. Nós, que não merecemos tanto sarcasmo.
Truman Show (98) – Um sujeito comum tem todo seu cotidiano transmitido ao vivo, 24 horas por dia, para milhões de telespectadores. Ele não sabe, assim como não compreende que todos à sua volta (incluindo mãe, esposa, melhor amigo) são atores contratados. É ou não é um belo enredo, digno de "1984"? "Truman" também nos ajuda a entender este bando de corações solitários que colocam suas vidas à nossa disposição via internet. Além dessa vã filosofia, o filme nos brinda com um show de Jim Carrey, absolutamente perfeito no papel. A lista é esta. O elemento de choque ficaria por conta da inclusão de "Corra que a Polícia Vem Aí", mas então descobri que esta hilariante comédia é de 88. Bem, talvez você ache a lista inteira ultrajante, chocante. Você não viu nada ainda.
Aguarde minha lista dos piores filmes da década. Só pra dar um gostinho, vou antecipar a categoria "não vi e não gostei": "Patch Adams, O Amor é Contagioso" (é ruim que vou assistir a algo com este subtítulo) e outros onde o Robin Williams se empenha pra ganhar o Nobel da Paz; "Guerra nas Estrelas – A Ameaça Fantasma" (tô fora); qualquer coisa do Oliver Stone; "O Mensageiro", que eu não sou boba; "Kundun" e outros sobre o Tibete. Paciência tibetana eu já tive aos montes nesta década de filminhos tão medíocres. Já foi muito garimpar nove pérolas.
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