O debate do século
Geral

O debate do século



Rodrigo Constantino

Paulinho era um neokeynesiano fanático, defensor incondicional de mais estímulos monetários e fiscais para recuperar a demanda agregada e produzir crescimento econômico e emprego. Já Frederico tinha visão diferente. Ele acreditava que injetar mais do veneno que causara os males iria apenas aumentar o tamanho da crise posterior. Eis o debate que eles travaram em sala de aula:

Paulinho: O banco central tem que manter as taxas de juros nulas até perder de vista, e injetar dezenas de bilhões no mercado para estimular a economia. ‘Compradores de imóveis em potencial se sentirão estimulados pelo prospecto de uma inflação moderadamente mais alta que facilitará o pagamento de suas dívidas; as corporações se sentirão encorajadas pelo prospecto de mais vendas no futuro; as ações subirão, elevando a riqueza, e o dólar vai cair, tornando as exportações americanas mais competitivas’.

Frederico: Como você pode chamar de riqueza a elevação artificial e nominal do preço dos ativos? Isso é transferência de riqueza, dos mais pobres para os mais ricos, que possuem maior quantidade desses bens. No mais, esta política serve apenas para manter as distorções do mercado e evitar ajustes necessários para liquidar os excessos produzidos pela bolha anterior. Não foi você que em 2002 defendeu exatamente o mesmo remédio para curar a recessão causada pelo estouro da bolha do Nasdaq?

Paulinho: Não me lembro bem... Mesmo assim, agora é diferente! Falta demanda agregada, e só o Fed tem bala na agulha para estimular essa demanda por meio do efeito riqueza...

Frederico: Isso foi justamente o argumento que você usou naquela época, eu me lembro bem. Mas o resultado não foi crescimento sustentável, e sim uma bolha imobiliária que estamos tendo que digerir agora. Você não teme a criação de novas bolhas? Desde quando riqueza se cria com impressão de papel moeda? Olha a República de Weimar, o Zimbábue...

Paulinho: Você é um conservador paranóico com a inflação e com bolhas. O importante é observar a inflação corrente e...

Frederico: A inflação corrente é a última que sente os impactos dos estímulos, que antes inflam o preço dos ativos, dando a falsa impressão de maior riqueza. Foi isso que aconteceu entre 2002 e 2007, e sabemos o resultado depois. É como tentar curar a ressaca de um bêbado oferecendo mais bebida ainda para ele. Claro que ele pode postergar a sensação de euforia, mas que médico em sã consciência diria que isso é saudável? O coitado vai acabar com uma cirrose hepática...

Paulinho: Não seja tão negativo. As autoridades precisam colocar a roda para girar, e com mais consumo, haverá mais produção, e com o tempo o endividamento será diluído.

Frederico: Como no Japão, que tem mais de 200% de dívida pública sobre o PIB?

Paulinho: Por que falar de Japão agora? Esquece isso...

Frederico: Creio que você coloca a carroça na frente dos bois, e pensa que o rabo é que balança o cachorro. Para aumentar a produção, os investidores precisam de maior confiança no futuro, e de poupança, claro. Nenhuma dessas coisas melhora com essa intervenção estatal. Pelo contrário. Isso gera mais insegurança, pois eles sabem que não existe almoço grátis. Os investidores acabam virando especuladores de curto prazo e correm para commodities, como o ouro, em busca de proteção. A “relíquia bárbara” já triplicou de preço desde o começo do primeiro afrouxamento monetário.

Paulinho: Quem liga para o preço do ouro? Vivemos na era das moedas fiduciárias sem lastro.

Frederico: Talvez por isso os ciclos econômicos tenham se intensificado e a concentração de riqueza, aumentado. E você ainda se diz defensor dos mais pobres, eleitor empolgado de Obama? Essa política agrada a turma de Wall Street mais que a qualquer outro grupo. Olha o Goldman Sachs (ou seria Government Sachs) aplaudindo efusivamente as loucuras do Bernanke...

Paulinho: Que dia bonito de sol hoje, não?

Frederico: Sabe o que mais me impressiona? É que vocês realmente parecem cigarras preocupadas apenas com o curto prazo, e nunca levam em conta os efeitos perversos desses estímulos no longo prazo. Vão acabar implodindo totalmente o sistema monetário, com a completa perda de confiança no dólar...

Paulinho: No longo prazo estaremos todos mortos. Relaxa e goza. Viu a alta do S&P 500 essa semana?





- Juros Baixos E Estagnação Secular - Samuel PessÔa
FOLHA DE SP - 24/08 O juro nos EUA será baixo nos próximos anos; para quem depende de capital externo, é uma boa notícia É possível que a taxa real de equilíbrio nos Estados Unidos, após o processo de normalização dos juros naquela economia,...

- They Just Don't Get It At The Fed
Rodrigo Constantino Em discurso hoje realizado em Connecticut, a governor do Federal Reserve Sarah Raskin defendeu a política extremamente acomodatícia do banco central americano para estimular a economia. No trecho abaixo, ela demonstra como funciona...

- Senhor Do Universo
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal Sexta-feira, dia de discurso de Ben Bernanke em Jackson Hole. O mundo todo aguarda ansiosamente o que o presidente do Fed irá dizer. Há cerca de um ano, foi neste mesmo evento, lá onde Judas perdeu as...

- Amy Winehouse, Tio Patinhas E O Senhor Mercado
Rodrigo Constantino, VALOR ECONÔMICO Prezado leitor, não pense que perdi o juízo por conta da volatilidade dos mercados. Peço um pouco de paciência para tentar explicar a conexão entre os personagens do título. À primeira vista, pode parecer confuso...

- Termômetro Dourado
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal A crise está de volta com força total. Na verdade, trata-se da mesma crise de 2008, apenas em capítulos diferentes. Se antes o maior problema estava na alavancagem do setor privado, agora o abacaxi foi...



Geral








.