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O homem que lutava pela liberdade
João Luiz Mauad, O GLOBO
Se vivo fosse, Milton Friedman teria completado 100 anos no último dia 31 de julho. Este franzino economista foi reconhecidamente, inclusive por seus oponentes, um grande pensador e acadêmico, além de conselheiro de dois presidentes americanos.
Porém, seu mais importante legado foi a desmistificação da ciência econômica, cujos princípios ele ensinou de forma magistral não só aos privilegiados alunos da Universidade de Chicago mas, principalmente, ao cidadão comum que, a exemplo deste escriba, teve a oportunidade de travar algum contato com seus livros, artigos, entrevistas e programas de TV.
A economia para Friedman não era uma ciência obscura, mas uma poderosa ferramenta analítica da ação humana, que ele utilizava com extrema perícia. Falava com simplicidade, clareza e objetividade. Jamais se escondeu atrás de títulos acadêmicos nem precisou utilizar jargões ou linguagem hermética para explicar teorias e conceitos econômicos intrincados e muitas vezes contra intuitivos.
Seus argumentos em defesa da liberdade em geral e do livre mercado em particular não eram apenas intelectualmente poderosos, eram externados com perspicácia, fina ironia e acima de tudo respeito aos interlocutores. Embora fosse um obstinado guerreiro da liberdade, Friedman era um modelo de cordialidade, dotado de uma nobreza tal que, não raro, deixava sem palavras os seus adversários.
Defender o capitalismo de livre mercado não é tarefa simples. É fácil olhar para uma família pobre do interior do Nordeste e afirmar, baseado no forte apelo emocional que tal imagem induz, que aquela família deve ser ajudada por programas governamentais. Muito mais difícil e complexo é explicar que para financiar tais programas muitos impostos precisarão ser arrecadados, e que o dinheiro destinado ao pagamento desses impostos deixará de irrigar investimentos importantes, que criariam milhares de empregos.
É complicado também entender (e explicar) que programas assistencialistas costumam criar incentivos perversos, além desencadear consequências não intencionais que podem acabar por prejudicar exatamente aqueles a quem se pretendia ajudar. A principal virtude de Friedman talvez tenha sido saber explicar, usando apenas poucas palavras, coisas que, para a maioria dos mortais, demandariam extensos livros.
Ao contrário do que afirmam seus adversários, a liberdade defendida por Friedman não visava o benefício dos ricos, mas da sociedade em geral. O sistema de vouchers para a educação que idealizou, por exemplo, tinha por objeto dar aos pobres a mesma liberdade e alternativas de que dispõem os ricos na escolha das escolas para seus filhos. Do mesmo modo, quando se opunha às leis de salário mínimo, ele tinha em mente justamente aqueles indivíduos que, devido à baixa qualificação e produtividade, são marginalizados do mercado formal de trabalho.
Em 1975, convidado por uma instituição privada, Friedman viajou ao Chile, onde teve um encontro de uma hora com Pinochet. Aquele rápido encontro gerou diversas interpretações falsas sobre uma eventual consultoria econômica prestada à ditadura militar chilena. Questionado a respeito daquela reunião, Friedman disse ter dado ao general os mesmos conselhos que costumava dar a todos os governantes com os quais se encontrou – alguns inclusive de esquerda, embora sobre esses ninguém jamais tenha mostrado qualquer preocupação ou indignação. Na verdade, Friedman nunca trabalhou para a ditadura Pinochet, cuja economia ficou a cargo de economistas chilenos oriundos da Universidade de Chicago. “O verdadeiro milagre chileno não foi o sucesso econômico alcançado, mas o fato de o governo ter ido contra suas crenças [autoritárias, centralizadoras e intervencionistas] e optado por um sistema desenhado e gerenciado por gente comprometida com os princípios do livre mercado”, disse ele tempos depois.
Liberal (no sentido clássico do termo), Friedman patrocinava de forma vigorosa não apenas a liberdade econômica, mas também a liberdade de expressão, de associação e de crença. Para desgosto dos conservadores mais empedernidos, Friedman defendia a descriminação do consumo de drogas. Segundo ele, “o governo tem tanto direito de dizer o que pode entrar em minha boca, quanto o que pode dela sair.”
O que diferencia os grandes homens é a coragem de defender suas convicções, a sabedoria para transmiti-las, além de energia e habilidade para trabalhar em prol daquilo em que acreditam. Milton Friedman era genuinamente um desses homens.
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