Por Altamiro BorgesPela sexta vez consecutiva, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa básica de juros (Selic) em 0,5% – de 13,25% para 13,75% ao ano. A decisão ortodoxa, que terá forte impacto na geração de emprego e renda, foi tomada por unanimidade nesta quarta-feira (3). Com esta nova alta, os juros são os maiores desde dezembro de 2008. Os banqueiros e rentistas, como já era de se esperar, comemoraram a decisão, afirmando que ela é vital para derrotar o “fantasma da inflação”. Já as centrais sindicais e as entidades da indústria criticaram a sexta elevação da Selic, argumentando que a inflação não dá sinais de descontrole e que a elevação dos juros retrai o consumo e o crédito, reduz a produção e, como efeito inevitável, gera mais demissões.
A decisão do Copom, com a sua autonomia relativa, reforça a recente opção do governo federal pelas políticas macroeconômicas de corte neoliberal. Diante do cenário de crise mundial do capitalismo, que não dá sinais consistentes de recuperação, a presidenta Dilma alega que esta opção pela ortodoxia é “tática” e visa evitar maiores turbulências no futuro. Isto explicaria as medidas provisórias que restringem direitos trabalhistas, como o seguro-desemprego, e os drásticos cortes anunciados nos gastos públicos. O problema é que as turbulências já são visíveis nos índices de desemprego e podem agravar ainda mais os desgastes políticos do governo, dando brechas, inclusive, para novas ofensivas golpistas pelo seu impeachment ou pelo seu continuo sangramento.
Nesta semana, antes desta nefasta decisão do Copom, o próprio governo anunciou que a taxa de desemprego teve a quarta alta seguida e atingiu 8% da PEA (População Economicamente Ativa). Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), a procura por trabalho aumentou entre fevereiro e abril deste ano em relação a igual período de 2014, mas a oferta de vagas não foi suficiente para acomodar esse novo contingente. Com este resultado, a taxa de desocupação atingiu o mesmo patamar ao observado no primeiro trimestre de 2013. Em ambos os casos, é o maior nível já observado na série, iniciada em janeiro de 2012. O resultado também representou aumento em relação a igual período de 2014, quando estava em 7,1%.
A regressão social também se manifestou no rendimento dos assalariados. Para o trimestre encerrado em abril deste ano, a renda média real do trabalhador foi de R$ 1.855,00. O valor é 0,4% menor do que em igual período de 2014. Ainda de acordo com a Pnad, o setor da construção civil foi o que mais demitiu: 609 mil trabalhadores no trimestre, uma queda de 7,6% no nível de emprego em relação a igual período de 2014. Já a administração pública, em função do ajuste fiscal que atinge governos estaduais e municipais, extinguiu 560 mil postos, um recuo de 9,5% no trimestre até abril diante de igual período do ano passado. Até quando o governo Dilma sustentará seu discurso "tático" da austeridade?
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