PRA QUEM NÃO GOSTA, TODO FEMINISMO É RADICAL
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PRA QUEM NÃO GOSTA, TODO FEMINISMO É RADICAL


Minhas leitoras e leitores são demais! Aprendo muito com el@s. Eu escreveria um post gigantesco pra expressar claramente o que a Liana foi capaz de dizer em um parágrafo:
Misandria = ódio ou desprezo pelo sexo masculino. Feminismo = movimento que defende direitos iguais e uma vivência humana liberta de padrões opressores baseados em normas de gênero. Bem diferente. Qualquer mulher que diga que homens deveriam não existir, que estaríamos melhor sem eles, estão propagando ideias misândricas, e não feministas. Aí está o termo extremista, já existe, não precisam inventar nenhum xingamento ou expressão chula. E tampouco relacionar uma com a outra. Se alguma mulher dessas se envolver em querelas feministas, relacionem a atitude dela com aquilo que ela é... uma misândrica”.
Perfeito. De fato, uma coisa não tem nada a ver com a outra. Achar que feministas odeiam homens é ideia (fixa) de quem odeia o feminismo, mas está longe de ser verdade. Na realidade, eu não conheço uma só feminista que se encaixe nesse perfil, e olha que eu conheço um monte (mais virtualmente que na vida real, mas ainda assim). Conheço algumas mulheres que, não sei se realmente odeiam homens (quem é louc@ pra odiar metade da humanidade? Opa, os mascus!), mas vivem dizendo “Homem não presta”, “homem é tudo igual”, e emitindo opiniões muito desfavoráveis aos homens de forma geral. Ironicamente, nenhuma dessas mulheres é feminista. Pelo contrário, elas detestam o feminismo.
Também não entendo por que algumas pessoas têm a necessidade de um rótulo para chamar @s “extremistas” de um movimento. Quem é extremista? Quem é radical? De acordo com que padrão? Se extremistas existem em todo e qualquer movimento, eles são minoria. São tão minoria que a maior parte dos ativistas nem sabe que existem. Mas sabe quem sabe, ou acha que sabe, que extremistas existem? Quem vive de criticar todo e qualquer movimento social. Pra essas pessoas, o próprio fato de existir um movimento social que luta por direitos já é um ato extremista. Essa gente ou quer manter seus privilégios intocados ou acha que ninguém tem que se mexer, que revolta é coisa de comunista, ou, como disse um leitor esses dias, de “estudante de Humanas”. Porque o mundo é uma maravilha só do jeito que tá, e em time que está ganhando não se mexe, se melhorar estraga, né?
Os mascus, por exemplo, que têm como missão declarada destruir o feminismo, que tanto empobreceu as mulheres (eles gostariam de voltar à década de 1950), só conhecem uma feminista: Valerie Solanas. Eles têm muito mais familiaridade com a Solanas do que eu. Apesar de eu me considerar feminista desde criancinha, só ouvi falar na Solanas quando vi um filme independente, Um Tiro para Andy Warhol. E no filme o mais importante é o que tá no título (ela atirou num artista super conhecido; felizmente não conseguiu matá-lo), não que ela é feminista. Ela escreveu um manifesto chamado SCUM, cujas iniciais talvez (isso não está em nenhum lugar do livro) signifiquem Society For Cutting Up Men (Sociedade para Mutilar os Homens). O manifesto é absurdo, e muita gente acha que Solanas estava sendo sarcástica. Obviamente quem pensa que todas as feministas são como Solanas creem que ela estava falando seríssimo. De um jeito ou de outro, achar que Solanas representa o feminismo, que ela é sequer um nome importante, é tão ridículo quanto dizer que Jack o Estripador representa os homens.
Enfim. Nunca vi o termo “feminista radical” (ou seu insulto pesado, feminazi, criado por Rush Limbaugh, um dos maiores reaças americanos) ser usado com um mínimo de bom senso. Ele é empregado toda vez em que uma feminista não fica lá, quietinha no seu canto, calada e fofinha, deixando que os homens falem por ela, ou quando critica alguém. Qualquer um. Qualquer coisa. Como disse a Liana num outro comentário, em quase 100% das vezes que ela ousou dizer que algo era machista, falaram pra ela relevar, não dar importância. Tem algum post aqui sem algum comentário do tipo “Tem tanta coisa mais importante acontecendo no mundo e vocês ficam falando disso”? Se essa mesma feminista que ouve um “Releve, deixa estar”, não relevar e criticar, o que acontece? Aí ela deixa de ser feminista, esse conceito abstrato, e torna-se uma feminista radical.
Não que haja algo errado em ser radical. Radical quer dizer que você realmente defende uma causa? Que pessoas que já não gostam da sua causa vão se irritar? Que você vê machismo até em inofensivas piadas? Que você não acha que um filme é só um filme? Se for isso, sou radical.
Tem quem defenda o uso de femista pra diferenciar feministas de mulheres que odeiam homens. Nunca usei femista e não sei de onde veio, mas desconfio que foi da mente torpe de alguém sem apreço pelo feminismo, que cria um termo com uma só sílaba a menos para confundir. Não tem por que usar femista, até porque o termo associa ódio ao homem exclusivamente a mulheres e feministas. Quando a gente se refere a alguém que odeia mulher usa só o prefixo mis, que quer dizer ódio, com o radical gino, mulher. Por que com ódio aos homens deveria ser diferente? Misândrico segue o mesmo princípio correto: o prefixo mis com andro (homem).
Nessa confusão sobre o que é feminismo radical se misturam outras besteiras. Por exemplo, isso de achar que toda mulher é feminista. A gente sabe que não é, e que inclusive tá cheio de mulher com os mesmos valores machistas dos homens. Mas, na hora de atacar femininista, vale tudo ― até inventar que mulheres num programa de TV americano que riram de um pênis decepado seriam feministas. Essas mulheres nunca se declararam feministas. É um programa de auditório bem baixo nível. Mas, pronto, elas viraram feministas de uma hora pra outra pra quem tava louco pra atacar o feminismo.
Rir de pênis decepados, sacanear homens, objetificar homens, odiar homens, piadinha sobre homem incapaz, comercial de produtos de limpeza tratando homens como incompetentes (e assim perpetuando a lenda de que só mulher pode cuidar da casa) ― nada disso é feminismo. Nem feminismo limpinho e cheiroso nem radical, seja lá o que for isso.




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