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RETROSPECTIVA 2007
Parece que este ano aconteceram várias coisas nos EUA indicando que o racismo segue forte. Um tradicional locutor esportivo perdeu o emprego por usar termos raciais pejorativos pra se referir a jogadoras (quase todas negras) de um time universitário de basquete. Houve um amplo debate sobre por que brancos não podem usar esses termos se rappers negros podem. Não se chegou à conclusão alguma, pra variar.
Ok, este caso é mais interessante: um homem de 21 anos acabou de deixar a cadeia, após cumprir pena de 4 anos. Seu crime? Ser negro. Isso e ter feito sexo oral (consensual) numa moça branca de 15 anos, quando ele tinha 17. Por esse crime hediondo ele foi condenado a uma década de prisão. De lá pra cá houve muitos protestos e a lei foi mudada. Hoje dois adolescentes transarem não é mais um crime, e sim uma contravenção. É verdade, ainda é visto como uma ofensa menor! Dá pra considerar este um país sério?
Outro caso que chamou a atenção foi o Jena 6. A gente no Brasil nem tem uma palavra pra um laço em forma de forca (em inglês é noose), desses usados pela Ku Klux Klan. Foi mais ou menos isso que acendeu os ânimos numa cidadezinha da Lousiana no final de 2006. É uma dessas histórias reais que eu só consigo imaginar ocorrendo nos EUA ou na África do Sul de quinze anos atrás: numa escola havia uma linda e frondosa árvore que era tida como só dos alunos brancos. Apenas eles podiam desfrutar daquela sombra. Um dia um aluno negro perguntou pro diretor se podia sentar-se lá. Na manhã seguinte havia nooses penduradas na árvore. Os três alunos brancos que fizeram isso foram apenas suspensos da escola por uns dias, o que gerou várias brigas entre grupos de adolescentes brancos e negros. A mais legal foi uma ocorrida numa festa, em que um branco sacou um revólver, negros o desarmaram, a polícia apareceu – e prendeu os negros por roubo de arma! A última briga resultou em seis rapazes negros agredirem um rapaz branco na saída de uma loja de conveniência. Os negros foram presos, e o branco, embora machucado, foi a uma festa na mesma noite. Aí (só aí?) começou um julgamento que mostra que a justiça não tem nada de cega. Um júri branco condenou os jovens negros a mais de 20 anos de prisão. Pra que um deles fosse julgado pelo crime de agressão à mão armada, foi preciso que ele tivesse uma arma, ué. Isso não foi problema pra promotoria, que inventou que o jovem usou seu par de tênis como arma (eles são criativos, vamos reconhecer). A mídia ignorou o caso até maio, até que uma revisitinha de esquerda publicou uma matéria. Houve inúmeros protestos e abaixo-assinados pedindo a liberação dos acusados, e em setembro eles tiveram suas penas revistas e foram soltos, sob condicional. Ah sim, a árvore da escola – o pomo da discórdia – foi derrubada. Nada mais justo: a culpa foi toda dela, afinal.
Quer mais um exemplo de uma questão racial que foi debatida este ano? A disparidade entre as penas para traficantes e usuários de crack (a maioria, negra) e para os de cocaína (a maioria, branca). Os de crack recebem pena seis vezes maior.
Parece que a Ku Klux Klan ainda vive. Hoje tem só uns 8 mil membros. No seu auge, em 1920, nada menos que 15% dos homens brancos americanos pertenciam à organização racista. Que um filme como “O Nascimento de uma Nação”, do Griffith, tenha virado um clássico indica bem o pensamento reinante. Não me lembro de já ter visto um filme mais racista que esse de 1914. Ele simplesmente trata os negros como selvagens perigosos e glorifica a KKK. Por que será que o grupo teve sua maior popularidade logo depois do lançamento? Mesmo que a KKK agora seja só uma sombra do que já foi, alguns sites de supremacistas arianos colocam no ar os endereços dos acusados do Jena 6 e seus familiares, caso alguém queira ir lá fazer justiça com as próprias mãos. Porque, como a gente sabe, não dá pra depender da justiça tradicional, tão boazinha com os negros! Que em 2008 o fim do apartheid chegue aqui também.
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