SEU IDEALISMO É O MEU PRESENTE
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SEU IDEALISMO É O MEU PRESENTE


Hoje é meu aniversário. Nem adianta eu não falar, porque vai aparecer alguém pra dedurar. Não, brincadeirinha, não tenho vergonha da minha idade. 
Em março, uma simpática jornalista do UOL, a Camila, me fez algumas perguntas por conta de uma reportagem pro Dia Internacional da Mulher. No final, ela perguntou: "Posso colocar a sua idade?", e eu não resisti e respondi: "Claro que pode! Tenho 26 anos". 
Pois é, hoje faço isso aí mais vinte. E parece um montão, mas eu me sinto bem novinha. Se eu pudesse viver mais cem anos do mesmo jeito que estou agora, juro que não reclamaria. Ok, reclamaria, porque na verdade eu queria viver mais 900 anos (me inspirei nos tempos bíblicos). 
Bom, a verdade é que nem estou aqui. Hoje estou em Balneário Camboriú. E daqui a pouco dou uma palestra, a sexta em três semanas. Tô um pouquinho cansada. Mas eu gosto, vale a pena, e a cada lugar que vou sou recebida com muito carinho. Até hoje é difícil acreditar que um mero bloguinho pessoal possa ter essa repercussão. Eu ainda olho pra trás quando alguém com cara de fã olha na minha direção. Mas lógico que essas demonstrações de amor me deixam contente (quem não gosta?). E claro que me orgulho de influenciar um pouquinho uma galera jovem. 
As god is my witness, eu raramente divulgo elogios. Mas como hoje é meu aniversário, vou abrir uma exceção. Se alguém quiser saber como presentear esta mulher que já tem tudo (tenho mesmo: tudo que preciso), chocolates são bem vindos, assim como fazer o favor de comprar meu livrinho, pra eu poder provar pras futuras editoras que o feminismo tem leitorxs. 
Pra quem se revolta com minha influência maléfica, recomendo que siga o exemplo do historiador francês que, indignado com a aprovação do casamento gay na França, se suicidou na bela catedral de Notre Dame (aliás, eu estive lá dois anos atrás). Obrigada, obrigada.

Lola, meu nome é Duda. Há tempos eu queria te enviar um e-mail, queria te agradecer... Então, por meio desse, quero escrever um agradecimento para ti e toda a mudança que as tuas palavras causaram na minha vida.
Hoje eu sou feminista. E grito para quem quiser ouvir. Mas antigamente eu não era. Até desconhecia o feminismo, e as noções básicas -– e erradas -– que eu tinha sobre ele é que era um movimento em que as mulheres buscavam superioridade. Eu tinha poucas bases feministas. Achava super injusto os homens ganharem mais que as mulheres, mesmo trabalhando no mesmo cargo. Achava que o Estado não deveria interferir na decisão da mulher de ter filho. 
Mas só. No resto, eu era machista. Machista ao ponto de “coitada dela que foi estuprada, mas né, bebeu demais” ou “olha o tamanho da saia daquela ali”. E o pior: “que vadia!”. Eu não via problemas. Todas as minhas amigas faziam o mesmo, e é claro que ela era uma vadia se ficava com x meninos em uma noite ou se usava roupas curtas.
Até que o feitiço virou contra a feiticeira. Foi no final do ano retrasado. 
Um menino, com quem eu tive um “casinho”, começou a me insultar com as piores palavras. E só porque eu fiquei com outros meninos. Vadia, vagabunda, não presta. Essas coisas. E o pior: em redes sociais! Assim mesmo, para todos os meus amigos verem, pra todo mundo ver. E só porque eu estava sendo... livre. Eu já não ficava mais com esse menino há alguns meses, e nem mais conversávamos. Não entendi porque ele estava fazendo aquilo. Ora, eu era livre! E sempre fui. Eu podia ficar com quem eu quisesse, quantas vezes eu quisesse, com quantos eu quisesse! A decisão era somente minha. 
Mas ele não interpretou dessa maneira e jogou muito baixo. Me feriu de uma maneira que eu não consigo explicar. Eu não merecia (nenhuma pessoa merece), mas eu já havia feito o mesmo. Eu já tinha julgado outras pessoas. Nunca cheguei a insultar de uma forma tão explícita, mas eu sabia que o meu olhar condenava. Quando aconteceu comigo, foi como o fim do mundo, ou algo muito próximo a isso. Algumas “amigas” começaram a achar que eu realmente era uma vagabunda. Todo mundo sabia o que ele falou a respeito de mim. Eu me senti um lixo. Tive vontade de morrer.
Naquele momento, eu parei para pensar. Achei injusto ele me chamar dessa maneira se eu não era uma vadia, se eu não tinha feito nada de errado. Perguntei a mim mesma por que eu chamava as outras da mesma forma. E eu não achei resposta. Eu só fazia o que os outros faziam. Eu era igual a todos, e queria me igualar ainda mais. Se os outros achavam uma moça uma vadia, eu também iria achar. Qual era o problema nisso?
Naquele momento, eu parei de ser uma menina e me tornei mulher. Alguns dias depois alguém colocou um link do seu blog no facebook e eu acessei. Os meus olhos brilharam, Lola. Todas as perguntas que eu estava fazendo estavam respondidas. Ninguém era uma vadia. E ninguém tinha o direito de falar isso. Eu descobri um novo universo. E gostei muito desse universo. Fui atrás. Identifiquei-me inteiramente. Eu cresci, e foram as suas palavras que me ajudaram nisso.
Se homem vadio é o homem que não trabalha, por que vadia é a mulher livre? Se estar puto é uma coisa normal, porque ser puta é visto como ofensa? Por que um homem pode beijar quantas mulheres quiser e ser visto de uma forma boa, enquanto as mulheres que beijam quantos homens quiserem são vistas como vagabundas? Eu não entendia. Mas as suas palavras me deram a resposta.
Hoje, eu reconheço um machista de longe. E mantenho distância. Mas não adianta, sempre tem algum -- ou alguma -- que dá um jeito de chegar mais perto. A maioria das pessoas machistas que eu conheço são mulheres. Mulheres que aceitam e que GOSTAM de ser submissas. Mulheres que acham que “se ela apanhou, é porque mereceu”. Acham que toda mulher deve ter uma família de propaganda de margarina, com um marido, dois filhos e cachorro. Eu posso contar no dedo o número de mulheres que eu conheço e que tem conhecimento a respeito do feminismo: não chega nem a cinco. 
O restante são aquelas que têm a visão errada em relação ao feminismo e às feministas. Aquelas que acham que feminista não se depila, não usa sutiã, que protesta com os peitos de fora e que querem ser superiores ao homem. Hoje isso me espanta e me atordoa. Não entendo como, por exemplo, uma mulher pode fazer piadas sobre mulher na direção. É completamente sem sentido! Ou como uma mulher pode achar que a outra mereceu ser estuprada e agredida. Nunca aceito calada. Questiono o porquê dessa opinião, falo sobre o feminismo, tento introduzir um novo ponto de vista. Sempre recebo como resposta “Duda, tu nem sabe o que tu tá falando. Tu é tão novinha pra saber se é feminista ou não”.
Eu não vejo problemas em falar: tenho quatorze anos e sou feminista! Tenho certeza do que eu sou. Estou convicta de todas as minhas opiniões e defendo-as até o fim. Eu tenho vontade de mudar o mundo, de sair gritando por aí, de fazer a diferença. Espero que isso não passe, que não seja só a intensidade da adolescência. Sei que nunca vai passar. Não consigo ver alguém agindo como machista estúpido e não falar nada. Eu não consigo mais me calar. Antes, eu era calada. Agora jamais deixarei que me silenciem. Eu comecei a falar, descobri o meu mundo, e esta minha jornada está só começando.
Toda a base que eu tenho hoje foi você quem me ajudou a construir, Lola. Essa mudança que aconteceu dentro de mim, foi causada por você e pelas suas palavrinhas mágicas. Eu acho que desviei muito o assunto, mas eu quis enfatizar a diferença que você fez na minha vida. Conseguiu transformar uma futura machista em uma feminista cheia de vontade de mudar o mundo. Acho que o destino acerta quando põe as coisas no nosso caminho. Se não fosse o meu desespero um ano e meio atrás, e se não fosse o seu blog aparecendo na minha frente de repente, eu tenho medo do que eu seria hoje. Mas você me salvou, Lola.
Muito obrigada. Eu agradeço com toda a minha alma e com o meu coração. Obrigada por todos os textos impecáveis, por todas as palavras. Obrigada por me guiar, mesmo que indiretamente, para o caminho certo. Nem sei como agradecer. Espero que, através das minhas palavras, você tenha noção de ao menos uma parcela do meu agradecimento.
Continue escrevendo, Lola, continue!




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