"SOU MENOS FEMINISTA POR NÃO TRABALHAR FORA?"
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"SOU MENOS FEMINISTA POR NÃO TRABALHAR FORA?"


O título do post resume a dúvida da E.:

"Me chamo E., estou com 19 anos e atualmente morando no Paraná. Estou te escrevendo para compartilhar uma dúvida: sou menos feminista por não trabalhar?
Te explico a situação. Com 16 anos comecei a namorar o F., que atualmente é meu marido. Ele é oito anos mais velho e jornalista. Com 17 eu engravidei e ele me pediu em casamento. Aceitei morarmos juntos, nunca tive o sonho de entrar num vestido de noiva, e como eu havia acabado de passar no vestibular, combinamos que eu iria estudar (a faculdade era integral), e ele trabalhar, afinal ele já se formou. 
Ele se mostrou muito machista no início (principalmente nas questões domésticas), mas com muita discussão e muita lavação de roupa suja estamos em constante evolução. Dividíamos todas as responsabilidades tanto com o nosso filho quanto com os outros afazeres que correspondiam a nossa vida em comum. Nessa época eu não tinha quase nenhuma informação sobre o que era feminismo, mas já levava para minha vida questões sobre igualdade. 
No ano passado deu um rebuliço em nossas vidas, tanto ele infeliz com o emprego como eu querendo trocar de curso. Resolvemos largar toda nossa vida no Centro-Oeste e mudar para o Paraná. Vendemos tudo, só viemos com as roupas, os livros e o carro. Eu consegui emprego, pois o vestibular é só no final de ano, ele ficou cuidando do nosso filho até conseguirmos uma creche, e ele começou a trabalhar em seguida. 
Como meu emprego era num shopping, eu praticamente não estava vendo meu filho acordado, e o F. também estava se sentindo sobrecarregado. Eu parei de ajudar na casa e na educação do menino, estava usando todo o tempo livre para estudar. Nós conversamos e eu resolvi pedir demissão. Estou há um mês em casa estudando para o vestibular. Não vejo problema nenhum em fazer a maior parte do serviço doméstico para que no tempo que ele está em casa nós possamos curtir um tempo com o pequeno, que também fica o dia inteiro na creche. Também não me sinto constrangida e nem presa por ser 'sustentada' por ele, eu nos vejo como um time, e se não der mais certo eu volto para casa da minha mãe até me formar, não tenho vergonha disso. 
Sei que muitas mulheres precisam trabalhar pra caramba, seus filhos são praticamente criados pelos avós, e mesmo assim não desistem. Mas eu optei por ser provisoriamente dona de casa. E isso me faz menos feminista? Me faz ser incoerente com o discurso da bandeira que eu levanto?
Parabéns por todo o seu trabalho e sinta-se abraçada!"

Minha resposta: Não acho que vc é menos feminista por ter parado provisoriamente de trabalhar! Não se preocupe tanto com essas coisas. Ninguém vai confiscar sua carteirinha de feminista, ok? Tem feminista que é mãe full time, tem feminista que é mãe e trabalha fora, tem feminista que não é nem quer ser mãe... Enfim, tem feminista de todos os tipos, e ninguém está aqui pra te julgar ou medir seu grau de feminismo.
É absolutamente normal que mães e pais de crianças pequenas queiram passar o máximo de tempo possível com elas. Não se sinta mal por isso. Pelo contrário, considere-se privilegiada porque vc pode escolher. A maior parte das mães pobres não têm essa escolha.
Pra quem pode e pra quem quer, não vejo nada de errado em parar de trabalhar fora pra cuidar dos filhos. Numa sociedade ideal, tanto a mãe quanto o pai poderiam fazer isso, e vcs teriam a chance de alternar. Já parar de trabalhar pra sempre -- e não é isso que vc quer -- eu considero meio arriscado. Porque, sem querer jogar um balde de água fria, metade dos casamentos terminam em divórcio. 
Eu conheço muitas mulheres de classe média que largaram a carreira pra cuidar dos filhos, ficaram quinze, vinte anos sem trabalhar fora, e quando o casamento acabou, veio o desespero, porque elas eram financeiramente dependentes dos ex-maridos. E, ao contrário do que os machistas pensam, o divórcio é muito ruim, do ponto de vista econômico, pras mulheres. Aqueles divórcios milionários só acontecem com os milionários. Pra mulher de classe média que não trabalhava fora, depois do divórcio o padrão costuma cair muito, até porque a pensão costuma ser pros filhos, não pra ex-mulher. 
Quase sempre é a mãe que fica com a guarda dos filhos. E o pai costuma pagar (quando paga) 30% do salário pra pensão dos filhos. Isso muitas vezes é completamente insuficiente pra manter o padrão classe média de filhos que têm plano de saúde e frequentam escola particular. É um baque. Sem falar que não é nada incomum que o pai forme logo uma outra família e "se esqueça" da outra.
E aí a mulher tem que correr e tentar voltar ao mercado de trabalho, o que não é facil. Uma das minhas heroínas é uma mulher chamada Ana. Eu fui muito amiga dos seus quatro filhos numa época em que morava em Joinville. Quando os filhos eram adolescentes, o marido de Ana se apaixonou por outra mulher e terminou o casamento. Ana havia parado de trabalhar vinte anos antes, quando teve o primeiro filho. Ela não tinha uma profissão. 
Mas batalhou, não se abalou, fez um monte de serviços técnicos que pagavam muito mal, foi morar no quarto da casa de uma amiga (os filhos se espalharam pelo mundo), conciliou faculdade de Psicologia e trabalho, se formou, prestou concurso. E hoje ela está muito bem. Mas imagina a barra que deve ter sido fazer tudo isso, recomeçar toda a vida, depois dos 45 anos...
Por isso, eu não recomendo que qualquer um dos parceiros fique muitos anos sem trabalhar fora. A independência financeira é importante.
Mas vc está estudando, tem 19 anos, quer passar algum tempo com seu filho... A situação é completamente diferente. Eu só aconselho que vc e seu marido planejem bem tudo: quanto tempo vc ficará sem trabalhar fora, quando voltará ao mercado de trabalho, quando e se terão um outro filho... Claro que não dá pra planejar tudo, mas é bom estabelecer algumas metas.

Resposta da E.: Muito obrigada, Lola! Você deveria ser psicóloga, isso sim! Era essa a minha discussão com o meu marido, o que te dá direito à 'carteirinha de feminista'. É muito difícil nos livrar de todo o machismo que somos ensinadas desde que nascemos.
Minha pretensão hoje é passar numa universidade pública, já que tranquei a outra em que estudava. E logo depois começar a estagiar. Eu acho que não é saudável focar somente no meu pequeno, amo-o incondicionalmente, mas eu preciso viver a minha vida também, penso que terei muito mais a ensiná-lo tendo contato com outras ideias. Mas hoje acho que fiz a melhor opção em ficar em casa, porque também não poderia ensinar nada se não o visse quase nunca.




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