A AGRESSIVIDADE COMO FERRAMENTA DE AUTO-AFIRMAÇÃO
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A AGRESSIVIDADE COMO FERRAMENTA DE AUTO-AFIRMAÇÃO


Não posso dizer que estou decepcionada com Luis Nassif porque, afinal, eu muito raramente lia seu blog (o maridão é que gosta, por causa da parte de música), nem o seguia no Twitter. E ele faz parte dos medalhões dos blogueiros progressistas, aqueles que promovem entrevista com Lula só com homens, aqueles mesmos que, em todo evento, convidam, se tanto, duas blogueiras, que devem ser as únicas que eles conhecem. Eu fico decepcionada é com a esquerda em geral, porque sempre acreditei que nós somos melhores que eles. É triste constatar que, no que concerne à luta pelos direitos das minorias, as diferenças entre blogueiros de esquerda (ou "progressistas") e de direita são praticamente imperceptíveis. Vou tentar resumir o que aconteceu. Na terça, Nassif publicou em seu blog um post ridículo de um tal de André, justificando o termo feminazi. Feminazi, pra quem não sabe, é uma expressão carregada de ideologia, assim como gayzista. Quase todas as feministas já foram xingadas de feminazi. Quem usa o termo automaticamente se coloca contra o feminismo. É parecido com escrever Lula com dois eles (pra inferir que Lula e Collor são iguais) ou petralha. Ao ouvir um termo desses, você sabe que vem de gente que odeia o PT. Além do mais, feminazi foi criado pelo ultraconservador Rush Limbaugh, chamando as feministas pró-aborto (ou seja, todas) de nazistas, porque tudo que uma mulher quer na vida é fazer aborto e provocar um genocídio de fetos. Enfim, é um termo que as feministas conhecemos muito bem.
No mesmo dia, a Cynthia, com toda educação que tem, publicou no seu blog um post que não mencionava o Nassif, mas explicava por que feminazi é um termo condenável. Ela mandou o texto ao Nassif, que o ignorou. Como não leio o blog do Nassif, só fiquei sabendo do post do André na quarta à noite, quando vi no blog da Barbara (que falava sobre o caso da Wikileaks) uma menção a uma discussão que ela tinha tido com o tal do André. Fui lá no Nassif. Fiquei impressionada com o post, que é de uma ignorância atroz. Na mesma noite, fiz o rascunho de um texto, mas só o finalizei e publiquei no meu blog na sexta. No post, eu rebato ponto a ponto das asneiras do André, e questiono como um texto tão sem sentido fora publicado num blog progressista, famoso. Repito: minha crítica não foi por André ter publicado um comentário (sou totalmente a favor da liberdade de expressão. Inclusive, este blog que vos fala não tem moderação de comentários). Foi pelo comentário ter virado post, e ainda por cima sem qualquer posicionamento do dono do blog.A repercussão do meu post foi rápida. Muita gente escreveu pro twitter do Nassif. Mas grandes jornalistas têm grandes egos, e Nassif não deu o braço a torcer. Respondeu os tweets com ironias, chamando as feministas que lhe escreveram (eu não escrevi pra ele, nem ele pra mim) de todos os clichês dos quais feministas são chamadas: brabas (lembra histéricas), barraqueiras, mal-humoradas, sem causa, carentes, agressivas, sem importância etc etc. A Cynthia resumiu bem a postura do Nassif na sexta. E, depois de eu ler o resumo, decidi escrever um update, aí sim dizendo que não via diferença no tratamento que Nassif e seu principal desafeto na internet dirigem às feministas (e, por extensão, às mulheres. Este é um tema à parte, e merece um post só pra ele, mas ninguém é misógino em vão: você não chama feministas de feminazis e respeita as mulheres. Se você odeia feministas, as chances de você odiar mulheres são bem grandinhas. Até porque a maior parte das feministas é mulher).
A polêmica continuou no sábado. Aqui neste post há alguns dos tweets distribuídos por Nassif (não vou repetir os da sexta, que Cynthia já havia publicado). Como se pode ver, são tweets irônicos e agressivos. Mas ele pode, porque é homem. É mulher que não pode se comportar assim. O mantra luisnassifiano no fim de semana foi “tenho muitas mulheres na minha vida, e nenhuma precisa ser agressiva pra se afirmar”. Que eu saiba, outras blogueiras mandaram respostas ao post do André pro Nassif. Pra uma ele disse que seria uma honra publicá-la, mas não publicou. Pra outra ele declarou que não foi ele que publicou o comentário do André, mas um assistente. Em nenhum momento Nassif reconheceu que errou, e muito menos pediu desculpas. Pelo contrário. Se vez de vítima e de sonso, fingindo não saber por que estava sendo questionado. No domingo à noite, Nassif finalmente decidiu se posicionar... com um post que não tinha como ser pior, começando pelo título, “O caso das 'feminazis'”. Ao reler o post do André, Nassif, após três dias de questionamentos, mostra o quanto aprendeu: “É um post polêmico, mas de bom nível, que eu mesmo selecionei, com um detalhe: utiliza o termo 'feminazi' que, confesso, não conhecia”. Sério? O posicionamento do Nassif foi dizer que esteve coberto de razão em transformar o comentário em post, porque aquele amontoado de besteiras era de bom nível? (E, se o post do André era pra gerar polêmica, por que Nassif não publicou logo um texto contrário, como o da Cynthia sobre feminazis? Se ele publica 50 posts por dia, unzinho não podia ser uma resposta ao post do André? Não, parece que não, porque as respostas não foram bem educadas, segundo ele).Pra provar que o post do André gerou ótimos comentários, entre os mais de 70, Nassif selecionou um exemplo de um leitor que é contra o termo feminazi: “Se você sente que as supremacistas femininas são uma ameaça, estou de acordo; são mesmo e devemos combater esse ideário e a gente que o defende - mas dando às coisas os nomes que as coisas têm". Ha ha, parece piada! O leitor não gosta do termo feminazi, e oferece em troca supremacistas femininas. Podia ter escolhido feminista xiita, feminista radical, o que for: no post do André, não havia um só exemplo de feminismo “exagerado”. Mas quem decide qual feminismo é adequado? Quem decide qual comentário de feminista é agressivo ou “de bom nível”? Ah, certamente não as pessoas que lutam pelos direitos das mulheres. Quem decide são os machistas ou os ignorantes, os que usam termos como feminazi ou supremacistas femininas, ou os que estão tão engajados na luta que nunca ouviram falar no termo mais comum contra as feministas. A postura de Nassif neste caso todo é absurda. Que fique bem claro: Nassif errou. Desencadeou-se uma reação, questionando seu erro. E o jeito d'ele se explicar foi atacando quem o atacou. Nassif parece não conseguir ser irônico em mais de 140 caracteres. No Twitter foi um festival de gracinhas, mas no post, ele é um gentleman: “Continuo acreditando na luta das mulheres, mas preocupado com essas assomos sexistas, virulentos, que acabam por prejudicar a imagem do movimento como um todo – que é muito mais amplo e sério do que 'detonar' no Twitter”. Pois é, ele foi detonado no Twitter. Não detonou ninguém. Virulenta e sexista sou eu! O “harém amplo” de Nassif é todo a favor dos direitos das mulheres. “E sem nenhuma necessidade de se valer da agressividade como ferramenta de auto-afirmação”, acrescenta ele. Exatamente. Nada como escutar de um especialista no assunto o que é feminismo: um movimento sexista e agressivo para que mulheres sem causa possam se auto-afirmar. E ele ainda inclui o nome de algumas feministas que o "detonaram" no Twitter.Pouco depois desse post desastroso, Nassif decide transformar um comentário de leitora em post, com título “As facções do feminismo”, em que cada uma das feminazis destacadas por Nassif são analisadas. A leitora conclui que elas fazem parte de um grupinho minoritário sem representatividade. Ou seja, Nassif publica um comentário para provar que sempre esteve certo — que as feministas citadas não passam de feminazis falando sozinhas. Fazendo isso, ele desqualificou a Marcha Mundial das Mulheres. Muita gente no Twitter achou isso o fundo do poço. O @contramachismo logo avisou: “A revista Caros Amigos deste mês disse que Nalu Faria é um dos nomes mais importantes no Brasil na questão da luta das mulheres”. Um dos nomes mais importantes do feminismo, facção, tanto faz: qualquer feminista que ousa criticar Nassif é vista como radical. Como feminazi. André tinha razão!Neste final de semana, Nassif provou que não tem a menor vontade de dialogar, pois confunde crítica com patrulhamento. E pra quem pergunta “Por que não lutar contra inimigos de verdade?”, eu só posso responder que faço isso também. No entanto, não vale a pena responder a um Pondé, por exemplo, porque tudo que ele fala é asneira. Ele só quer polemizar, e foi contratado por um jornal cada vez mais à direita para cumprir exatamente esse papel. Feminazi é um termo que espero ouvir do Pondé. Gracinhas no Twitter espero ouvir do Pondé. Não esperava do Nassif. Esperava uma admissão do erro, um pedido de desculpas. Mas parece que, para certos medalhões (parafraseando Love Story), “ser homem é nunca ter que pedir perdão”.




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