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NASSIF PEDE DESCULPAS ÀS FEMINISTAS DE BOM NÍVEL
Todos juntos agora: culpamos o movimento feminista pela nossa infelicidade. Pra mim, o caso Nassif vs. feministas havia perdido o momentum lá pela terça-feira. Já tinha dado o que tinha que dar. Ficou claro que o consagrado jornalista não calçaria as sandálias da humildade e pediria desculpas. Eu ainda publiquei um post respondendo a um leitor, e pronto. Por mim, tava encerrado. Eu já não lia o Nassif antes e continuaria sem lê-lo. Portanto, pra mim não mudava nada. Só que no decorrer da semana surgiram outros posts sobre o caso, alguns muito interessantes. O do Paulo, publicado no Biscoito Fino, ficou marcado como o primeiro de um homem num blog de grande popularidade criticando o Nassif no imbroglio todo. Amei o subtítulo do Paulo, “A busca incansável por um feminismo dócil”, porque era exatamente isso que os apoiadores de Nassif faziam ao condenar as feministas “agressivas”. Buscavam, e continuaram buscando, um feminismo bonzinho, que baixasse os olhos ao falar com homens da estatura de um Nassif. Aquela caixa rendeu 175 comentários, uns cinco deles meus, porque comecei a responder quando era citada. E muitos homens que apareciam lá falavam altas besteiras – que o feminismo não tinha razão de ser, porque mulheres não eram mais discriminadas, que feministas eram antipáticas e truculentas mesmo, que feministas provocavam medo e eram chatas ao insistirem no politicamente correto, que feminazi era só uma palavrinha. Num dos comentários, eu disse que o dever de aprender sobre o feminismo era deles, dos ignorantes (eles não gostaram dessa palavra, mas eu quis dizer ignorantes em feminismo. Ou eles se consideram experts no assunto só porque são casados com uma mulher?), não das feministas em ensinar. Quer dizer, este blog e vários outros escrevem montes de posts sobre o assunto. Existe uma biblioteca ampla de obras feministas (mais de quarenta anos!). Se alguém realmente quisesse aprender, leria blogs e livros, não? Ao invés de aparecer em caixas de comentários para afirmar que não aprendem por que nós, as megeras, não queremos ensiná-los! Provavelmente motivado por essas asneiras, Alex não se conteve e escreveu um ótimo post em que explica que, se você sente uma reação alérgica ao ser exposto ao feminismo, é porque provavelmente é machista. Ontem cedo foi a vez de Idelber comentar o assunto. A meu ver, ele falou menos do caso Nassif e mais sobre como os homens incomodados podem e devem se educar (porque, né, imagina eu escrever um post sobre Física Quântica que dissesse: “Embora eu não entenda muito de Física Quântica, considero os físicos quânticos radicais, agressivos, e castradores”), e pediu para que vissem o feminismo (e as blogueiras em geral) como algo para ser levado a sério. Para alcançar isso, os homens teriam de parar de olhar pros seus umbigos, analisando apenas suas reações ao feminismo, e ouvir o que o feminismo tem a dizer. Pelo jeito este post do Idelber incomodou o Nassif, e aí ele decidiu se manifestar. Para, acreditem, pedir desculpas. E dar umas atacadinhas, que ninguém é de ferro (não vou nem falar dos ataques cifrados ao Idelber, ou do fato de Nassif mencionar vários blogueiros sem linkar um post sequer).Primeiro Nassif falou da entrevista do Lula aos blogueiros (todos homens). Este, pra ele, é o contexto do caso “feminazi”. Pra mim é um pouco mais amplo. Eu já tô cantando que blogueiros progressistas ignoram blogueiras faz bem mais tempo que isso. Depois, Nassif diz: “Publiquei o comentário [do André sobre as feminazis] sem atentar para o significado da palavra 'feminazi'. Até aí, acontece. Duas feministas de bom nível me enviaram emails solicitando o contraponto. Em viagem, não os li”. Eu tomei a liberdade de colar o longo post do Nassif num arquivo do Word pra ver quantas vezes certas palavras mais marcantes aparecem. “Bom nível” aparece quatro vezes. Apenas um “primeiríssimo nível” (que é melhor do que bom, não? Nenhuma das duas feministas de bom nível alcançou o troféu de “primeiríssimo nível”). “Bom senso”, uma. “Agressiva(s)”, quatro vezes. “Agressividade”, duas. Essa dicotomia entre pessoas de “bom nível” e “agressivas” é bem essa busca por um feminismo dócil que Paulo citou. Será que essa postura TFP insistindo em “bom nível” soa boçal só pra mim? E se Nassif tivesse escrito “dois militantes gays de bom nível me escreveram”, soaria ofensivo? E “Dois negros de bom nível me escreveram”? Mas escrever uma barbaridade como “feministas de bom nível” (enquanto jura não ser machista) faz pouquíssima gente arquear a sobrancelha, né? A mim, ele não teve nem a coragem de citar o nome. Olha a indireta aqui, gente: “Primeiro erro, julgar o todo pela parte – no caso, imaginando que o movimento feminista tivesse a cara de uma delas, especialmente agressiva e desagradável. Com sua agressividade, 'exigindo' retratação, me deixou amarrado. Qualquer explicação, tentando desmontar o imbróglio, significaria o recuo com faca nas costas. Besteira minha, julgar que ela fosse a cara do movimento – e não era”. Responder a indiretas é uma droga. As pessoas que usam indiretas geralmente dizem: “Não, claro que não era você o alvo. Aliás, quem é você?”, ou vem com a velha “Se a carapuça serviu...” (sendo que a carapuça foi feita sob medida). Mas se não sou eu a feminista extremamente agressiva e desagradável, quem seria? Porque não foi no dia 7/12 (quando Nassif publicou o post do André) que a confusão começou. Foi no dia 10/12, quando eu publiquei um texto rebatendo um a um dos pontos absurdos do post do André. E insisto que meu post não foi agressivo. Só mencionei o Nassif umas duas vezes. Meu update, publicado à noite, foi meio bravo sim. Isso depois de eu ler a compilação que a Cynthia fez da reação do Nassif.Mas se eu precisasse de alguma outra dica pra descobrir que a indireta nassifiana é pra mim, seria simples: todos os posts do grupinho organizador dos blogueiros progressistas publicados defendendo o Nassif seguem o mesmo caminho. Nenhum me cita, mas condena a agressividade feminista. Todos ficam revoltados por uma figura misteriosa dizer que esse grupo ignora blogueiras. E todos reclamam do “oportunismo” de quem reclama, de querer promover seu próprio blog falando mal de blogs tão importantes. Então yeah, eu acho que tão falando de mim. E não fui a única a sentir a indireta. Há menções a mim não nos blogs corporativistas que reproduzem o post do Nassif, mas nos comentários. Um, por exemplo, diz “Fora Lola Fora”. Devo cair fora de onde? Da blogosfera? Do planeta Terra?Nassif prossegue: “E, agora, o que julgo terem sido os erros das feministas. O primeiro, o de permitir que as feministas mais agressivas assumissem o controle da reação. Sei que as mais bem preparadas tendem a ter um perfil mais maduro e discreto, não gostando de se envolver em quiproquós. Mas, para os usuários do Twitter, a cara do movimento passa a ser a das extremamente agressivas”. Eu entendi, Nassif. As feministas “mais bem preparadas” e “maduras” são “discretas” e não se envolvem em “quiproquós”. Ou seja, não criticam você nem ninguém. Elas ficam lá no seu canto, sábias, silenciosas, que é como todas as mulheres, mas principalmente as feministas, devem se comportar. Seu erro, afinal, foi apenas estar desinformado. Não sabia o que era feminazi, um termo assim tão difícil de interpretar, porque vem com um sufixo totalmente neutro como nazi (se alguém te chamasse de Nazif você tampouco concluiria tratar-se de algo pejorativo, eu sei). Depois, você não sabia que a feminista agressiva e desagradável devia ser ignorada, porque não representa o movimento. Que movimento? Esse que você mostrou conhecer (e respeitar) tão bem? Opa, nem notei que tô me dirigindo ao Nassif. Deixa eu ser chique e falar com ele em terceira pessoa (chique nos últimos é indireta, imagino), pra ser menos agressiva. Então, tenho que rir na parte que Nassif critica o movimento feminista por “permitir” que eu, tão indomável, tão agressiva, assuma “o controle da reação”. Pois é, pra que servem as outras feministas, as feministas de bom nível, se não pra impedir que uma feminista extremamente agressiva (e perigosa, hear me roar!) publique um post dela em seu próprio blog? Bom, enquanto estava acabando de escrever estas mal-traçadas, vi um post do Eduardo Guimarães defendendo o Nassif, pra variar, e praticamente pedindo a cabeça do Idelber. Um comentarista bem-educado criticou a falta de blogueiras na entrevista com Lula, e Edu respondeu: “Deixe de ser leviano. Eu já expliquei que elas desistiram na última hora e não houve tempo de conseguir outras. Ligamos pra várias. Vocês querem fazer prevalecer vossa mentira a todo custo. Por sorte temos várias testemunhas de que quatro mulheres foram convidadas. Você tenta dar sobrevida ao factóide criado com clara intenção de criar essa cizânia. Mas vou atrás de vocês todos e vou descobrir que está por trás de suas ações sujas.”Nossa, nessas horas eu até fico feliz por estar sendo citada apenas indiretamente... Vai que eles descobrem que eu, assim como o Idelber, sou uma agente secreta do PSDB/DEM querendo dividir os progressistas? Percebam que o Idelber virou alvo apenas porque ousou publicar o post do Paulo, e por ter escrito um texto em que se põe do lado das feministas. Podem ter certeza que a culpa pela divisão dos progressistas vai cair em cima do feminismo. Feminismo dos raríssimos homens que conseguem enxergar além de seus privilégios, e das mulheres - tanto as agressivas quanto as de bom nível.
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