COMO CONHECI O MARIDÃO
Geral

COMO CONHECI O MARIDÃO


Inúmeros leitores (três) manifestaram curiosidade em saber como este caso de amor perfeito e eterno e de felicidade absoluta que existe entre o maridão e eu aconteceu. Ou seja, como nos conhecemos, que eu poderia chamar de How I Met My Maridón, se fosse uma comédia. Foi assim: era 1990, e eu morava em São Paulo, ele em Osasco, onde nasceu. Eu havia começado a frequentar o Clube de Xadrez (continua lá, na rua Araújo) havia poucos meses. Sempre adorei xadrez. Foi meu pai quem me ensinou, mas a gente não jogava muito. Jogava praticamente uma só partida por ano, geralmente perto do Natal. Eu sempre perdia, e ficava sem ver xadrez por um ano. No ano seguinte, mais uma partida, mais uma surra. Até que um ano, sabe-se lá porquê, eu empatei uma. No ano seguinte, quando ganhei, meu papi disse: “Você tá forte demais pra mim. Vai procurar um clube”. Não sei se isso de melhorar o jogo a cada ano é comum, se xadrez tem a ver com maturidade, mas realmente foi o que aconteceu comigo. Então fui ao clube, e lá fui bastante paparicada, porque na época eu era jovem (23 aninhos) e bela e não havia muitas outras mulheres no recinto. Surgiram alguns convites de homens bem-intencionados pra me treinar, acreditando (tolinhos!) que eu tinha talento. Eu gostei de tudo e de todos, e só me arrependi de não ter começado a jogar mais seriamente antes, na minha adolescência.

Um dia, 11 de agosto, houve um torneio grande e profissional no clube. Lembro bem porque uma equipe da falecida TV Manchete passou por lá pra falar do torneio e acabou me entrevistando. A repórter, não muito chegada ao jogo, não conseguiu ir além de indagações inteligentes como: “Está uma manhã tão bonita hoje! O que você está fazendo aqui?” (não faço a menor idéia da minha resposta, mas deve ter sido educada, ou não teria ido ao ar). Sei que havia um clima de entusiasmo. Pra mim, ia ser meu primeiro torneio com jogadores fortes de verdade (não que os “ratos do clube” não eram fortes, mas esses que apareceram especialmente pro torneio eram mais fortes, com rating maior, entre os melhores do Brasil). E o Silvio foi um desses. Fomos emparceirados na primeira rodada, e ele ganhou fácil. Nem eu nem ele lembra se a gente começou a conversar antes dessa primeira rodada ou apenas depois, mas o fato é que, dali em diante, no intervalo de todas as partidas, lá estava a gente, papeando. Também não lembro bem sobre o que a gente conversou. Lembro só que ele estava nervoso, e que eu o achei uma gracinha. Pensei cá pros meus botões: “Ele é bonitinho, pena que tem barba...” (porque eu não gostava, e continuo sem gostar, de barba. Bigode também, eca). Lembro também que havia uma outra moça no pedaço, jogadora muito melhor que eu, e que Silvio e ela eram amigos. Ele falava bastante com ela, e eu não sabia se havia algo mais sério entre eles.

Isso tudo foi no sábado. No domingo, segundo e último dia do torneio, o Silvinho apareceu sem barba! A impressão que ficou é que ele leu meus pensamentos. Durante o dia inteiro a gente bateu papo. Quando o torneio terminou, e eu notei que daquele mato não saía coelho, dei uma indireta. Como eu tinha visto a amiga e ele marcando uma ida ao cinema, já fui me intrometendo: “Eu gostaria de ir, mas não fui convidada”. E ele esclareceu que não, não era nada disso, e se por favor, você quer ir ao cinema?, tô te convidando. Então fomos. Não lembro do filme, mas o Silvinho jura que foi Susie e os Baker Boys. A realidade é que a gente não encontrou o cinema. Era algum na Augusta que tava meio escondido. Silvio então recomendou que fossemos a um barzinho perto da USP. Fomos. Ele pediu bolinhas de provolone a milanesa, que eu nunca tinha comido e achei uma delícia (ele diz que foi um desperdício porque a gente nem comeu todas as bolinhas!). A parte mais romântica foi quando ele adivinhou, do nada, não só que eu havia jogado handebol mas que eu tinha sido goleira! Como que alguém pode olhar pra uma pessoa e chutar isso? Leitura de pensamentos de novo.

Ele me levou até em casa, estacionou o carro, e lá rolaram altos amassos. Aquele Chevette que anos mais tarde literalmente viria a cair aos pedaços ficou bem embaçado. Marcamos pra marcar alguma coisa por telefone durante a semana.

E aí algo estranho aconteceu. Eu me senti tão, tão culpada que fiquei doente. Doente mesmo, de ter de faltar ao trabalho durante dois ou três dias (eu era redatora publicitária). Culpada de quê, você pode perguntar. É que fazia um mês que eu estava saindo com um carinha que conheci no clube. Um advogado alto, lindo e loiro que meu papi, que implicava com todos os meus namorados, apelidou de “El Názi” (o nazista). Até aquela altura meu recorde de namoro era esse mesmo, um mês. Nunca tinha tido um namorado sério, não sabia se iria continuar com el názi, mas me senti muito mal por estar mentindo pra dois carinhas legais. Mesmo assim, marquei com Silvio pra ele ir a minha casa na tarde de sábado, pra me dar algumas lições de xadrez. E marquei com el názi pra ele aparecer lá à noite.

Silvinho foi lá, e devo confessar que não vimos muito xadrez. O que me lembro é da tragicomédia do meu papi batendo na parede do meu quarto, eu falando com ele ao telefone (na mesma casa), e ele gritando, quase histérico: “El názi vai chegar e você taí com o Silvio!”. Ah, convém dizer que meu amado papi, que sempre odiou todos os meus casos e namorados à primeira vista, adorou o Silvinho. Desde o primeiro dia se deram bem, o que prova que meu pai era um completo irresponsável. Se você é pai e pensa no futuro de sua filha, vai preferir que ela fique com um advogado engravatado ou com um jogador de xadrez que, na época, recebia de salário meia cesta básica por mês? Sério, era meia cesta, porque ele tinha que repartir metade com um outro jogador. E assim que esse doido de pedra que era meu pai viu o Silvinho, pensou: “Taí um partidão pra minha filha!”. Louco, coitado.

Mas naquela noite de sábado tive que despachar o Silvio. E ele, calmo e querido, nem quis saber quais planos tão urgentes eram esses meus prum sábado à noite. Só foi embora. No domingo, saímos. E quando ele subiu ao meu quarto, achei que precisava contar a verdade e revelar a existência do názi. Pensei que ele iria ficar revoltado e não querer me ver nunca mais, porque pô, eu o traí durante uma semana, e naqueles tempos não existia isso de ficar, ou, se existia, a gente já tinha passado da idade. Mas sabe o que ele disse, após ouvir minha confissão? “Espero que você opte por mim”. E naquele momento o escolhi.





- Feliz AniversÁrio Surpresa, Silvinho
O maridão é lindo e fofinho e hoje é o aniversário dele. Pra comemorar, planejei com minha mãe um super café da manhã/almoço (em outras palavras, brunch. A gente devia ter uma palavra pra isso em português). Só que surpresa, sem que o maridão...

- Pai, NÃo Sou Mais Virgem
De impulso, decidi escrever este relato mais pessoal depois de ver aquelas partes de Insensato Coração em que o pai se preocupa com a "honra" da filha, e de uma leitora que nunca teve pai me perguntar como costuma ser a reação paterna ao saber que...

- It Was 20 Years Ago Today
Eu e maridão, aeroporto de Buenos Aires, alta madrugada. Oi, gente! Como não tive tempo de escrever a crítica de A Origem (espero que pra sexta dê), e como hoje é uma data muito especial, e qualquer data especial merece Beatles, eu deixei o título...

- Homens E Mulheres, Feitos Um Para O Outro
Homens e mulheres podem ser só amigos? Esta é uma das perguntas centrais da minha comédia romântica preferida de todos os tempos, Harry e Sally – Feitos Um para o Outro. Eu, e praticamente todas as mulheres que conheço, acham a pergunta um tanto...

- Motel Fuleiro É Com A Gente
Outro motivo pra eu me identificar com a Sandra, a mulher que desapareceu durante cinco dias após se encontrar com um estranho no metrô paulista, é na sua descrição do motel. Como ela disse, eles dormiram “como marido e mulher” (o que, no meu...



Geral








.