COMUNIDADE DA AGRONOMIA: NOSSO NEGÓCIO É MULHER
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COMUNIDADE DA AGRONOMIA: NOSSO NEGÓCIO É MULHER


Última vez que falo sobre o trote absurdo da Agronomia da UnB, mas é que hoje descobri uns detalhes que queria compartilhar com vocês. Primeiro, vi o vídeo. Sim, claro que veteranos gravaram a “festa da humilhação”. Não vou por o link aqui porque é inexplicável que este vídeo ainda esteja no YouTube (mas é facílimo de encontrar). Só tirei algumas imagens que não mostram a cara das calouras que participaram. Mas o que se vê são várias alunas (bem mais de quatro, ao contrário do que disse a veterana no seu comentário) participando. Algumas aparecem com um sorriso tímido, outras já chegam cabisbaixas. No vídeo não se vê o presidente do Centro Acadêmico vestido de mulher com a faixa presidencial. O que está registrado é ainda mais elaborado, como você pode ver pelas fotos. É um boneco, com a linguiça na altura das calças. A linguiça está coberta com um preservativo, e um rapaz vestido de mulher (acreditem: veteranos se travestiram para rebater a fama homofóbica do curso) comanda a festa, colocando mais leite condensado a cada vez, dizendo pra caloura até onde deve chupar (“Até aqui, viu?”, mostra com o dedo; "Garganta profunda!"), e julgando se a caloura fez ou não direito. Se não fez, afirma: “Vai fazer de novo!”, e coloca mais leite condensado. Enquanto isso, um coro grita hinos como “Ovo, ovo, ovo, vai até o ovo” (mais de 250 estudantes acompanharam o trote). Todas as calouras, depois de cumprida sua obrigação, saem com a cabeça baixa, mostrando ânsia de vômito.
Aí um dos calouros dá uma declaração pra um jornal dizendo: “A brincadeira não tinha cunho sexual”. Imagina se tivesse.
Descobri também que a denúncia partiu das próprias alunas. Foram elas que chamaram a atenção da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República que, por sua vez, pediu explicações à reitoria da UnB. Então não podemos nos guiar por outras alunas que participaram ou, no caso de veteranas, acompanharam o trote e não viram nada de mais. Alunas –- aquelas que não foram forçadas a participar, fizeram porque quiseram (porque claro, né, quem não vai colocar a boca numa linguiça com camisinha e leite condensado que já foi chupada por umas dez bocas diferentes? É o sonho de toda universitária!) -- não gostaram nada da brincadeira. E por isso denunciaram.
Tenho uma explicação pra tentar entender por que o curso de Agronomia, que tem muito mais mulheres que homens, não vê seus trotes como machistas. Encontrei a comunidade da Agronomia - UnB do orkut, que tem 849 membros. Logo em sua primeira página encontra-se este lema:

"Nós somos da agronomia,
Fiéis paus d'agua da putaria

O nosso negócio é cana, mulher e cama toda semana
Arroz se come com feijão

Cachaça se toma com limão
Porém se a pátria amada precisar da Agronomada...

Puta merda que cagada!
"


Um hino desses já exclui as mulheres, certo? "Nós somos da agronomia" e "nosso negócio é mulher" mostra que "nós" não incluímos mulheres. Fica mais fácil humilhar quem está fora do grupo.
No fórum da comunidade sobre o famoso trote, há observações como essas:

- “Era tão mais fácil qdo usávamos só melaço e penas de galinha em calouros alégicos a abelhas...”
- “vamos con
cordar que o trote da agro não é tão inocente assim... mas podiamos voltar a quebrar a costela (ou seria clavícula?) dos calouros, né não buteco?”
- “Inocente não, mas comparado a de outros cursos, e aos antigos trotes da agro , esse foi light.”

Ah sim, e durante o trote, havia um juramento que os calouros tinham que repetir. O Correio Braziliense é que publicou, e não há dúvida de sua veracidade, pois foi tirada uma foto do cartaz: “Eu, calouro burro, muito burro mesmo, mais burro que o Juliano, prometo respeitar, obedecer e amar os meus veteranos. Não dar em cima de nenhuma caloura. Não vencer os campeonatos de futebol. Assinar a chamada para meus veteranos. Fornecer as minhas colegas de semestre (irmã, prima, amiga) para meus veteranos. Para as calouras: não diminuir o p. dos veteranos. Não brigar nos eventos. Não ficar barriguda e careca”.
Acho que não preciso desenhar, né? Notem como a sexualidade das alunas está veiculada sempre aos homens que mandam (calouros devem fornecer mulheres, calouras devem respeitar o totem sagrado que é o p. dos veteranos).
Numa mentalidade dessas fica mais claro compreender por que esses alunos fazem brincadeiras como as da linguiça sem ver qualquer problema. E se ofendem quando alguém acusa o curso de machista e homofóbico. As mulheres são muito bem tratadas, disse uma veterana. Imagina se não fossem.




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