Ah, outra que tá no “Lago” é a Sandra Bullock. Ela e o Keanu, que não se vêem desde “Velocidade Máxima”, se apaixonam através de cartas, embora estejam separados por dois anos de diferença. Não tente entender. Cá pra nós, o filme não tem a menor lógica. O maridão até tentou adotar um modelo matemático, tipo em que lugar do tempo os dois poderiam se encontrar, mas isso é besteira. O que interessa é o ultra-romantismo. Sabe no estilo de “Em Algum Lugar do Passado”? Ou, sei lá, “Nunca te Vi... Sempre te Amei”? Esse romântico bem pegajoso mesmo. “Lago”, dirigido pelo argentino Alejandro Agresti (de “Valentin”, que eu gostei, pero no mucho), é baseado num filme coreano que a gente nunca ouviu falar. E funciona porque o Keanu e a Sandra funcionam juntos, se bem que acho que eu funcionaria melhor com o Keanu, mas admito que esta não seja uma opinião imparcial. Outro dia uma amiga tava me dizendo, agora que reviu “Matrix”, como o Keanu virou um homão. A gente conhece o Keanu desde adolescente, pô. Lembra dele em “Parenthood”? Sempre fazendo papel de aloprado. Daí ele sobreviveu ao desastre que foi “Drácula”, onde de fato deu uma das piores interpretações já vistas num filme profissional. E hoje ele pode não ser um grande ator, mas é ótimo no que faz. Deve ser por isso que a bandeirinha vermelha de “Lago” subia toda vez que ele se aproximava da caixa de correio. Mensagem pra você e o troço subia? Achei meio fálico, mas nós do público feminino entendemos a mensagem.
Vamos aos acertos. Tem uma alusão à Jane Austen, que tá em todas ultimamente. O romance citado, “Persuasão”, realmente é uma história bonita. No começo da leitura eu pensei, não é possível, a trama é simples demais. É só isso mesmo? Mas à medida que o enredo avançava e eu me convencia que nada de mais iria acontecer, eu fui seduzida. Pra mim trouxe de volta aquele clima meio adolescente do friozinho na espinha que a gente sente quando o garoto amado entra na sala. Bom, se um filme de Hollywood fizer alguém ler a Jane, já é lucro. E “Lago” tem o Paul McCartney cantando uma música. O que mais a gente pode querer? É verdade que o Paul hoje em dia não traz memórias tão românticas... Tá certo que ele viveu um verdadeiro conto de fadas com a Linda (eu sempre lembro da declaração deles de que nunca, em sei lá quantas décadas, passaram uma noite separados, e suspiro), mas o casamento com a Heather durou o quê, quinze minutos? E agora ela tá pedindo metade dos três bilhões dele. Nada muito meigo.
Agora os pontos negativos. Primeiro que essa ode a Chicago tá cansando. Todo santo filme hoje homenageia Chicago? Infelizmente, por causa do papel de arquiteto idealista do Keanu, teve umas horas que me lembrei do arquiteto de “Proposta Indecente” dizendo que o sonho de todo tijolo é virar, sei lá, o World Trade Center. Quero dizer, imagino que o exemplo era outro. E que diachos acontece com a cachorra fofinha de “Lago”? Essa definitivamente vai pro Departamento dos Cachorros Achados e Perdidos de Hollywood. Em geral eles somem no meio, aqui é no final. Se fosse uma comédia haveria uma ceninha depois dos créditos mostrando o cão saindo do fundo do lago. Mas o que mais me incomodou foi o tom conservador. “Lago” vai de encontro à plataforma Bush/Papa de que educação sexual e distribuição de camisinha não tão com nada, o quente é mesmo se casar virgem. A Sandra até mora com alguém (o Dylan Walsh de “Nip/Tuck”), mas pelo jeito os dois só dividem o mesmo teto. E o Keanu é fiel até a medula. Eu até entendo que ele seja fiel a mim, mas à Sandra?
Na saída perguntei pro maridão se ele esperaria dois anos por mim, e ele disse que sim, claro, porque esperar, no filme, é só viver, deixar a vida te levar. Eu tive que retrucar: “Opa! Como assim? Nada disso! Não pode cair na gandaia! Tem que esperar da forma mais casta possível, sem nem olhar pras botas de outra mulher. No máximo você pode fazer afaguinhos na barriga de uma cachorra!” (cachorra do gênero canis, bem entendido). O Keanu esperaria.