Então, gostei bastante de “Matrix 2”. Também tem idéias provocantes como clamar que a escolha é uma ilusão criada pelos que têm poder para aqueles que não têm. E há uma excelente seqüência de perseguição numa via-expressa. O melhor momento ocorre quando a Carrie-Anne Moss, que faz a Trinity, o par romântico do Neo, pilota uma moto na contramão, mas espero que os motoboys não se inspirem e façam isso no Brasil, pelo menos não sem capacete. O problema é que, em seguida, vem outra cena de ação que pára a ação. O Morfeu (Laurence Fishburne) dá pra lutar em cima de um caminhão. Deviam ter continuado com a Trinity.
O grande negócio do primeiro é que os irmãos Wachowski (e tem quem ache meu nome difícil), roteiristas e diretores do filme, conseguiram mesclar explicações e lutas de kung-fu sem jamais perder o ritmo. Nesta segunda investida, isso não acontece. Parece que eles cronometraram as cenas pra dar equilibro, mas, infelizmente, há muita coisa desnecessária. Por exemplo, um videoclip logo no início, com a população de Zion (a última cidade humana) fingindo estar numa rave enquanto Neo e Trinity se amam, cheira à pura preguiça. E pode ser uma bela proeza de efeitos especiais gerados por computador colocar o Neo pra combater uns 111 (não contei) agentes Smith, mas toda aquela encenação lembra mais joguinho de videogame. Tanto que quando os agentes aparecem novamente é inevitável a gente pensar “Ih, lá vem aqueles malas outra vez!”.
É incrível como o Keanu Reeves é capaz de distribuir socos e pontapés sem desarrumar os óculos escuros. Não estou criticando o Keanu, que, apesar de não ser um ótimo ator, é perfeito pro papel. O Keanu, inclusive, está a anos-luz da sua aparição em “Drácula”, esta sim considerada uma das piores interpretações por um ator profissional na história do cinema, tadinho. Tenho a maior simpatia pelo Keanu, sério. Mas os criadores do filme certamente estão a par da temática gay do primeiro “Matrix”, que rendeu teses acadêmicas hilárias. Não deve ser à toa que Keanu – que na vida real, dizem, vive com um homem mais velho – desta vez seja cantado por dois coroas (o conselheiro e o arquiteto). Depois, o agente Smith critica o Neo por usar todos os músculos... menos um. Os irmãos Wachowski estão obviamente duvidando da masculinidade do Keanu, ou no mínimo dando mais pano pra manga. E disfarçar fazendo com que ele seja forçado a beijar a Monica Bellucci não ajuda. Aliás, como a Monica (de “Malena”) é linda. Como a Carrie é feinha em comparação. Falei pro maridão que, se ele tivesse que beijar a Monica na minha frente para salvar a humanidade, a gente poderia concluir que a humanidade já durou demais mesmo. Mais tarde, perguntei pra ele quem ele preferia salvar, eu ou a humanidade? Ele disse que a humanidade, já que isso supostamente me englobaria. Tive de reformular a questão: eu ou toda a humanidade menos eu? Ele quis saber se a humanidade incluía os cachorrinhos.
P.S. 1: O que eu queria mesmo é que todas as pessoas que falassem ao celular no cinema fossem predestinadas. Ou seja, no momento em que elas atendessem o telefone, elas ficariam verdes e desapareceriam sem deixar vestígio.
E mais um P.S. pra acabar: tem um trailer de “Matrix 3” após os créditos, mas não sei se compensa agüentar cinco minutos de barulho-que-alguns-chamam-de-música pra vê-lo.