CRÍTICA: MATRIX RELOADED / A humanidade por um fio, de novo
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CRÍTICA: MATRIX RELOADED / A humanidade por um fio, de novo


Antes de falar sobre “Matrix Reloaded”, tenho de falar sobre o “Matrix” de 99. Adorei o original, mas não de cara. Na primeira vez que o vi, cometi a heresia de considerar “O Cubo” mais interessante. Mas aí vi de novo, e de novo, e cada vez que eu via, mais eu gostava. Hoje amo “Matrix” e o colocaria na lista dos dez melhores filmes da década de 90. O que mais me encanta é quando o agente Smith diz que nós, humanos, somos o vírus do planeta. Opa! Vamos começar do começo. Supondo que você passou os últimos quatro anos numa caverna do Tibet e não saiba do que estou falando: o “Matrix” original mostra que nada disso que vivemos é realidade. É uma simulação para que a gente não perceba que, no fundo, somos escravos de máquinas que sugam nossa energia. O filme é complicado e tá cheio de mensagens filosóficas que permitem um enorme número de interpretações, dependendo do seu credo (me preocupa que o fundamentalismo cristão tenha adotado “Matrix” como seu filme de cabeceira), mas o espectador médio pode descartar essas mensagens e babar com a ação. Bom, “Matrix 2”, como quase todas as continuações, não chega aos pés do primeirão – embora seja muito boa. Não recomendo que o pessoal vá ver a seqüência sem ver o original, ou não vai entender patavina. Ah, e todo mundo precisa ser avisado que “Matrix Reloaded” não termina agora, só em novembro, com a terceira (e última?) empreitada da série.

Então, gostei bastante de “Matrix 2”. Também tem idéias provocantes como clamar que a escolha é uma ilusão criada pelos que têm poder para aqueles que não têm. E há uma excelente seqüência de perseguição numa via-expressa. O melhor momento ocorre quando a Carrie-Anne Moss, que faz a Trinity, o par romântico do Neo, pilota uma moto na contramão, mas espero que os motoboys não se inspirem e façam isso no Brasil, pelo menos não sem capacete. O problema é que, em seguida, vem outra cena de ação que pára a ação. O Morfeu (Laurence Fishburne) dá pra lutar em cima de um caminhão. Deviam ter continuado com a Trinity.

O grande negócio do primeiro é que os irmãos Wachowski (e tem quem ache meu nome difícil), roteiristas e diretores do filme, conseguiram mesclar explicações e lutas de kung-fu sem jamais perder o ritmo. Nesta segunda investida, isso não acontece. Parece que eles cronometraram as cenas pra dar equilibro, mas, infelizmente, há muita coisa desnecessária. Por exemplo, um videoclip logo no início, com a população de Zion (a última cidade humana) fingindo estar numa rave enquanto Neo e Trinity se amam, cheira à pura preguiça. E pode ser uma bela proeza de efeitos especiais gerados por computador colocar o Neo pra combater uns 111 (não contei) agentes Smith, mas toda aquela encenação lembra mais joguinho de videogame. Tanto que quando os agentes aparecem novamente é inevitável a gente pensar “Ih, lá vem aqueles malas outra vez!”.

É incrível como o Keanu Reeves é capaz de distribuir socos e pontapés sem desarrumar os óculos escuros. Não estou criticando o Keanu, que, apesar de não ser um ótimo ator, é perfeito pro papel. O Keanu, inclusive, está a anos-luz da sua aparição em “Drácula”, esta sim considerada uma das piores interpretações por um ator profissional na história do cinema, tadinho. Tenho a maior simpatia pelo Keanu, sério. Mas os criadores do filme certamente estão a par da temática gay do primeiro “Matrix”, que rendeu teses acadêmicas hilárias. Não deve ser à toa que Keanu – que na vida real, dizem, vive com um homem mais velho – desta vez seja cantado por dois coroas (o conselheiro e o arquiteto). Depois, o agente Smith critica o Neo por usar todos os músculos... menos um. Os irmãos Wachowski estão obviamente duvidando da masculinidade do Keanu, ou no mínimo dando mais pano pra manga. E disfarçar fazendo com que ele seja forçado a beijar a Monica Bellucci não ajuda. Aliás, como a Monica (de “Malena”) é linda. Como a Carrie é feinha em comparação. Falei pro maridão que, se ele tivesse que beijar a Monica na minha frente para salvar a humanidade, a gente poderia concluir que a humanidade já durou demais mesmo. Mais tarde, perguntei pra ele quem ele preferia salvar, eu ou a humanidade? Ele disse que a humanidade, já que isso supostamente me englobaria. Tive de reformular a questão: eu ou toda a humanidade menos eu? Ele quis saber se a humanidade incluía os cachorrinhos.

P.S. 1: O que eu queria mesmo é que todas as pessoas que falassem ao celular no cinema fossem predestinadas. Ou seja, no momento em que elas atendessem o telefone, elas ficariam verdes e desapareceriam sem deixar vestígio.

E mais um P.S. pra acabar: tem um trailer de “Matrix 3” após os créditos, mas não sei se compensa agüentar cinco minutos de barulho-que-alguns-chamam-de-música pra vê-lo.





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