CRÍTICA: TRANSFORMERS / Brincando de destruir carrinho
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CRÍTICA: TRANSFORMERS / Brincando de destruir carrinho


É uma série de TV? É um brinquedo dos anos 80? É um pretexto pra merchandising? Não, é “Transformers”, o mais novo arrasa-quarteirão. E no fundo é tudo isso mencionado acima também, como se o filme se contorcesse um pouquinho lá, esticasse um tiquinho ali, e virasse qualquer bugiganga que os produtores queiram vender. Os transformistas do título são seres extraterrestres não biológicos e não vegetais, meio pilhas, como o coelhinho da Rayovac, só que versão grandona e menos fofinha. Não sei se nomes como Megatron, Bubblebee, Supra Sumo Alguma Coisa, quero dizer, Optimus Prime (olha só que apelido pretensioso – e esse é um dos robôs bonzinhos!), te dizem algo. Eles já destruíram o planeta deles e agora vieram acabar com o nosso. Isso traz lembranças do que os EUA costumam fazer com outros países, mas o legal é que toda vez que há uma ameaça externa os americanos nos salvam. É mais ou menos como o valentão da escola que bate em todos os coleguinhas, mas os protege quando um valentão de fora invade seu domínio. No caso, os transformistas vêm à Terra em busca de um playground particular, onde possam se auto-aniquilar e perseguir um cubo (tá, eu dormi em algumas cenas). E boa parte da aventura é justamente isso: um monte de ferro velho se chacoalhando e se chocando contra outras latarias.

Como todos os transformistas são iguais e têm a voz idêntica, não pude distinguir um do outro. Se bem que sou do tipo que consegue diferenciar apenas um Fusca de uma Kombi. O maridão jura que os transformistas bonzinhos eram coloridos. Mas há um adolescente da espécie humana na jogada, pro público-alvo se identificar com alguém. É quase um sonho erótico prum teen. Imagina alguém chegar e declarar, na frente da garota que você quer conquistar, que o destino da humanidade depende de você. E, pra coroar, que seu avô foi um dos exploradores mais importantes da História. É claro que no final o protagonista deixará de ser virgem e terá um carrão à disposição, e se tudo isso vier acompanhado da salvação do planeta, pô, melhor ainda.

No começo “Transformistas” é puro “Christine, o Carro Assassino” (um ótimo filme trash, por sinal, que fala mais sobre a relação máquina-homem que o chato “Crash” do Cronenberg). Você não escolhe o carro, o carro é que te escolhe. E o carro ainda determina as musiquinhas que a rádio vai tocar. Tem também um toque de “Repo Man, A Onda Punk”, e, bom, bastante de “Comboio do Terror”, uma das maiores bombas de todos os tempos (dirigido pelo Stephen King, que quis provar que De Palma e Kubrick não sabiam o que estavam fazendo quando adaptaram “Carrie” e “O Iluminado”). A melhor referência é mesmo à “Kill Bill”, quando um carro surge todo pintado, e ouve-se a música que acompanhou Uma Thurman em sua moto amarela.

Os efeitos especiais são massa, no início. Depois cansam. Adorei o rádio-gravador se transformando num Gremlin de metal. Fiquei pensando nos perigos que minha sanduicheira representa à humanidade. E gostei de um dos transformistas, imagino que um vilão, chamando um ser humano de “nojento” e jogando-o pra escanteio, como se fosse uma barata. Mas pra mim a aventura sobe de nível quando surge um John Turturro (de “Faça a Coisa Certa”, “Barton Fink”, “Quiz Show”) exagerado e engraçado. O problema é que ele some após um tempo e a trama o esquece. O Jon Voight, que nunca mais foi o mesmo depois de ser cuspido por uma Anaconda, não se sai bem como o Secretário de Defesa. Ele desaparece e aparece no fim, mas o Turturro não deixa rastro. Vai ver que ele já tinha coletado o cachê.

Somos misericordiosamente poupados do heroísmo do presidente americano. Em compensação, temos o Secretário e os soldados ianques, pra quem “perder não é uma opção”. Uma mensagem pior que a outra, tudo em nome da liberdade. E por pouco os EUA não entram em guerra contra o país errado... de novo. Aqui parece que os inimigos de plantão são Irã, China e Rússia. Mas mesmo a lavagem cerebral ideológica cede aos encantos da venda de produtos. Por exemplo, eu ignorava que a Nokia era finlandesa, não japonesa. Não sei como consegui viver até hoje sem saber disso.

Acho que esta aventura do Michael Bay (“Armageddon”) custou uns 150 milhões de dólares. Com esse dinheiro, dava pra construir um depósito de lixo intergalático e jogar lá todas as velharias dos americanos. Mas não se pode esperar muito de um filme baseado em robôs gigantes. É pros meninos que gostam de brincar de destruir carrinho. Já disse que o herói é um teen, pros adolescentes se identificarem com ele? Bom, tem uma hora em que um dos robôs, não me lembro se um bonzinho ou malvado, faz xixi em alguém. Eu me identifiquei com a vítima.





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