GUEST POST: ADOTE UM CÃO, NÃO UM NOVO SOBRENOME
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GUEST POST: ADOTE UM CÃO, NÃO UM NOVO SOBRENOME


Adotar o sobrenome do marido é uma tradição patriarcal, disso não resta dúvida. Por ser feminista, buscar coerência e, bem, gostar do meu nome, não adotei o sobrenome do maridão quando casamos.
Não é o fim do mundo pegar o nome do esposo. Não vou apontar pra ninguém individualmente e dizer "Você não deveria ter feito isso". Mas é sempre bom questionar costumes, ainda mais aqueles que, de tão antigos, são vistos como "naturais". Não recomendo trocar o sobrenome (só na hipótese de você detestar o seu). As amigas que adotaram o sobrenome do marido reclamaram da burocracia de alterar os documentos. 
Nos EUA, a adoção do sobrenome segue absurdamente comum. Até muitas feministas pegam o nome do esposo e usam um hífen para juntá-lo ao seu. Acho que aqui não temos isso. 
Bom, já faz um tempinho que escrevi um post mais detalhado sobre essa prática que, a meu ver, soa muito ultrapassada. Verônica Lima, que se define como jornalista e feminista "sempre em construção", escreveu um texto interessante na sua estreia no "medium life". Pedi para republicá-lo aqui.

Nos últimos dias não foram apenas um ou dois casos de mulheres que incorporaram o sobrenome de seus maridos que me causaram estranhamento. Foram vários. E me espantaram porque se tratavam de mulheres que aparentemente têm um entendimento interessante sobre os dispositivos de poder que o mundo criou para submeter as pessoas, especialmente as mulheres.
De um blog escrito por uma
mulher cristã (clique para ampliar)
Sei que não se deve esperar posicionamentos de ninguém, mas me surpreender com mais de um caso me fez pensar que talvez os avanços que já conseguimos observar no tratamento das mulheres ainda são perigosamente superficiais. Não pelo comportamento dos homens, mas pela forma como nós, mulheres, somos condicionadas a criar nossos projetos, nossos planos e sonhos. Ainda é difícil entender que as mulheres não precisam mais trocar seus documentos (e enfrentar toda aquela burocracia, na maioria das vezes sozinha) para selar o relacionamento com alguém. 
Está entranhado em nós pensamentos como “talvez seja mesmo necessário ter um filho para me tornar completa como mulher, mesmo que eu não tenha vontade”. 
São pensamentos que violentam a nós mesmas, em nome de uma suposta "normalidade". E, sim, é difícil desentranhar. É difícil enfrentar a normose (entenda essa doença com esse vídeo, ou esse texto).
Claro que a adoção do nome pode ser uma opção necessária em casos específicos, até para enfrentar a burocracia (por exemplo, para quem mora em alguns países do exterior). Mas os casos que vi não eram exceções como essas: eram mulheres que têm a plena consciência de que são desobrigadas da adoção de sobrenome alheio, e que até sabem que essa antiga obrigação tinha todo o peso de uma sociedade patriarcal que via as mulheres quase como uma propriedade masculina (primeiro do pai, depois do marido).
Se alguém for polemizar esse texto, já deixo claro que SIM, eu acho que para superarmos a dimensão cultural da submissão feminina é necessário rompermos com dimensões simbólicas como a mudança de nome. Alguns podem dizer que alguns homens já optam por adotar o nome da esposa , mas a diferença está justamente no verbo OPTAR. 
Durante muitos anos mudar o próprio foi uma obrigação das mulheres. Esse peso nunca foi uma realidade para os homens, que voluntariamente hoje podem achar bacana, divertido, ou até uma forma de "homenagem".
Mas, para as mulheres, manter o próprio nome é, SIM, um posicionamento político necessário, quando a mudança carrega todo o peso histórico de uma obrigação que se conectava diretamente com uma visão da mulher como propriedade. Desconstruamos o falso argumento que devemos fazer as vontades de homens para manter a tradição, os costumes, o comum. 
Temos que honrar nossas relações a partir da liberdade e da independência, e nada mais.
Transformar as relações é preciso. Mudar sobrenomes não é preciso.




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