GUEST POST: APRENDI QUE PRECISO SER FEMINISTA TODOS OS DIAS
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GUEST POST: APRENDI QUE PRECISO SER FEMINISTA TODOS OS DIAS


Esta e a imagem abaixo são do tumblr Quem precisa do feminismo?

A B. me enviou este relato da sua epifania:

Lola, venho a um tempo querendo escrever pra você. Desde o dia em que encontrei seu blog na internet, pra ser mais exata. Por um acaso do destino encontrei o seu blog através de links. Ele e vários outros blogs feministas me ensinaram tudo que eu sei sobre feminismo.
Quando descobri de verdade o feminismo foi mais ou menos como ver minha cabeça explodir na frente dos meus olhos. Tudo que eu sabia, tudo que me definia, todos os espaços não preenchidos, explodiram junto. Me tomei de uma sensação de descoberta e de revolta ao mesmo tempo. Era incômodo e reconfortante. Lembrei da palavra que define essa sensação: epifania. 
Eu tenho 25 anos, sou branca, de classe média alta. Sempre fui chamada de patricinha, sempre. 
Nunca gostei do estereótipo. Apesar de ter tido uma vida bastante abastada, meus pais sempre me ensinaram a ser simples e humilde. Nunca sofri nenhum preconceito de classe ou cor, mas mesmo eu, uma menina relativamente protegida dos males da nossa sociedade, sofri com o machismo e o patriarcado. E sempre desconfiei que a culpa não era minha.
Tive um namorado por dois anos e meio. Pra mim era normal tanto dar satisfação sobre meus relacionamentos passados quanto mentir sobre quantos parceiros eu tive antes dele, principalmente porque ele era ciumento e muito inseguro. Durante esses dois anos e meio ele construiu uma imagem minha de pureza e bondade, e sempre me disse o quanto era importante pra ele que eu mantivesse essa imagem. Tudo isso fora do quarto, é claro... pros outros saberem que a namorada dele era uma mulher decente, não uma vagabunda. 
Um dia ele descobriu sobre um (!) ex-namorado de vários anos atrás que eu não havia contado pra ele. Bom, nem preciso dizer que ele me chamou de vagabunda pra baixo, ameaçou terminar, ficou violento e muito alterado. Eu tive um ataque de pânico nesse dia e precisei ser levada para a emergência de um hospital, tudo porque era inconcebível ser humilhada pela pessoa que sempre me disse que ser chamada de vagabunda era a pior coisa do mundo. Esse dia, e nunca vou esquecer dele, foi a primeira vez que precisei ser feminista, pelo bem da minha saúde. Depois de melhorar coloquei na minha cabeça que eu não podia ser humilhada daquela forma nem me sentir mal por ter feito o que tanta gente faz: sexo. Mais adiante nosso relacionamento se tornou insustentável e terminou.
Na mesma época eu tinha um chefe muito machista que dizia que todas as minhas decisões eram pouco racionais e muito impulsivas, por eu ser mulher. Ele destruiu minha autoestima profissional e meu futuro na empresa. Por aconselhamento de uma colega de trabalho extremamente compreensiva a minha situação, saí do emprego. 
Durante esse intervalo precisei juntar grana e arrumar outro trabalho. Um amigo me ajudou a arrumar trabalho e sempre fui muito agradecida a ele, o que ele confundiu com ser fácil e estar disponível. Festas eram comuns nessa fase da minha vida, já que antes eu estava presa a um relacionamento com um cara ciumento, e depois eu queria mesmo era aproveitar.
Numa dessas festas bebi demais e caí no sono, num quarto de uma casa onde acontecia a festa. Esse meu amigo se aproveitou da situação para abrir minha calça e colocar a mão dentro. Por sorte eu acordei a tempo de não passar disso e saí correndo daquele lugar, sozinha, de madrugada, no meio da chuva. Foi outro momento muito difícil, em que eu precisei ser feminista mais uma vez, porque todos que souberam da história me disseram que eu que provoquei a situação. Sabe lá o que ele iria fazer comigo, mas as pessoas riam da minha cara quando eu falava que tinha sofrido uma tentativa de estupro.
Sempre fui uma mulher forte e superei esses traumas. Consegui seguir em frente e tentar outros relacionamentos. Quando descobri o feminismo tive de lidar com a realidade de que eu tenho que ser feminista todos os dias. Não posso me envolver em relacionamentos abusivos nem permitir que me culpem pela violência dos outros, pela falta de respeito ao meu corpo. Tenho que estar sempre atenta pra não deixar o patriarcado me derrubar, porque sou mulher e vou lutar pelos meus objetivos. Vou lutar para que mais mulheres possam atingir os objetivos que almejam. 
Na sociedade em que vivemos, todos que são livres pagam o preço: eu não tenho tido relacionamentos duradouros desde que resolvi que não admitiria machismo na minha vida, e ainda assim sou grata por não ter sofrido nenhuma outra violência, verbal ou física. Não é fácil levantar a bandeira feminista, assim como não é fácil acordar todos os dias e saber que a opressão faz parte do nosso dia-a-dia, e prejudica principalmente a população mais pobre. Mesmo assim eu sei que um dia vou encontrar alguém que divida esses ideais comigo.
Mas, Lola, sempre que eu venho aqui, leio o que você e outrxs blogueirxs escrevem, eu tenho força. Eu tenho força pra pedir salários iguais, pra combater a violência contra a mulher, pra lutar contra esse sistema que não me representa. E é isso que peço a todxs que estão nessa luta comigo: força!




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