GUEST POST: O FEMINISMO TEM SIDO MINHA FORÇA E O BLOG, MEU REFÚGIO
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GUEST POST: O FEMINISMO TEM SIDO MINHA FORÇA E O BLOG, MEU REFÚGIO


A S. me mandou este relato já faz um tempinho:

Eu acompanho seu blog já faz alguns anos. Com 17 anos comecei a acompanhar com mais frequência e depois com 19  a ler praticamente todos os textos e assim faço até hoje, já com 21 anos. Te admiro. Pelas iniciativas, conquistas, pela luta, por tudo que me serviu de inspiração e base pra hoje eu poder dizer que sou feminista sem medo e sem dúvidas como um dia eu já tive. 
Já achei que ser feminista era odiar homens, hoje eu sei que isso é misandria. Já achei que ser feminista era tantas coisas que tenho até vergonha de dizer que pensei, mas apesar disso dentro de mim sempre fui uma feminista só esperando a base e hoje não vejo motivos pra não ser.
Eu já fui abusada de diversas maneiras, assim como tantas mulheres que acompanho no seu blog. E me dói por essa dor ser tão comum entre nós. Eu tinha um primo que me enforcava quando eu tinha uns 4 anos e dizia que eu não poderia contar a ninguém (eu até contei mas não resolveu muita coisa). Lembro das vezes que minha mãe dizia pra fechar as pernas, pois afinal os homens são pervertidos. Eu bloqueio lembranças, porém fico remoendo muitas delas o tempo inteiro. 
Sofri bullying na escola. Com 9 anos eu já tinha pelo no corpo, axilas, partes íntimas e os da perna estavam engrossando e já não eram mais loiros e ralinhos. Meus seios cresceram rápido. Minhas amigas falavam: enquanto a gente tem metade de um limão, a S. já tem um limão inteiro. Os garotos mais velhos se interessavam, buzinavam na rua e eu pensava "Que legal, eles me acham bonita". Sim, eu já pensei assim.
Depois veio a explosão de hormônios. Eu tinha tanta raiva dentro de mim. Me odiava. Chorava todos os dias. 
Quando estava na primeira série me apaixonei pelo garoto da minha sala que era filho da professora da segunda série. Quando fui pra segunda série entrei em pânico. Quase não queria ir pra aula. Eu tinha feito cartinhas com desenhos, e todos me disseram que a mãe dele ia me expulsar da escola. Eu acreditei. A mãe dele, minha então professora, colocava chapéu de burro em mim e mandava cheirar parede até "aprender a responder em voz alta". Depois ela me mandou ir pra psicóloga pela timidez, e por tudo mais. 
Ainda na escola, lembro quando os garotos passavam as mãos em mim, por dentro da minha saia, isso até a sexta série. Lembro quando um tentou me agarrar depois de uma apresentação no auditório da escola e se encoxou em mim, queria me forçar a beijá-lo. Lembro do meu primeiro beijo lá pelos 11, 12 anos. 
Uma garota que me odiava começou a selecionar garotos na escola, segundo ela alguém ia querer ficar comigo. Quando um garoto quis, eles me trancaram na sala de aula assim que o professor saiu, colocaram o garoto pra dentro da sala e só me deixariam sair se eu beijasse ele. Eu beijei. Mesmo com todas aquelas pessoas me olhando e fazendo pressão, dessa vez eu não consegui correr. Então pensei: agora vão parar de cantar 'maria sapatão, sapatão, sapatão, de dia é maria e de noite é joão' enquanto eu ia pra casa -- e isso porque eu não tinha beijado ainda. Mas sabe, não pararam. 
Eu fiquei com uma garota pela primeira vez com 16 anos. Foi na escola. Fiquei sabendo que ela era bissexual então não tive medo de pedir. Fiz até uma música pra ela e apresentei em uma audição de violão. Nessa época eu já era mais despojada, comunicativa, comecei a colorir o meu cabelo de variadas cores com mais frequência e isso permaneceria até uns 2 anos atrás.
Eu decidi fazer tentar o vestibular, sem estudar, só pra ver. Acabei passando. Só que no segundo ano da faculdade comecei a me sentir inútil. Trabalhei pra pagar a faculdade -- não consegui bolsa 100%. Acabei trancando a faculdade e me arrependo.
Quando tranquei a faculdade, estava à beira da minha crise depressiva mais forte de todas. Eu estava ficando com uma garota na época. Simplesmente me afastei de todos. Deletei redes sociais que permanecem deletadas até hoje. Fiquei seis meses na cama. Engordei 50kg. Larguei o cigarro e os remédios de supetão. Passei por crises de abstinência horríveis. 
No começo de 2013 decidi ir trabalhar. Comecei ganhando $600 pra andar o dia inteiro no sol, levando dinheiro pra cima e pra baixo, era cansativo. Mas conseguir interagir de novo foi um passo largo pra mim. 
Como no escritório eram maioria mulheres e um garoto, todos que chegavam diziam: "Coitado, ter que aguentar tanta mulher o dia todo". E adivinha, elas achavam graça, concordavam, afinal é insuportável conviver com mulheres, né? Antes de sair daquele emprego, eu tirei um mês de férias, estava muito, muito estressada. E não era porque eram mulheres, mas pelas coisas que eu ouvia todo dia, pelo garoto que trabalhava lá achar legal violência com as próprias mãos, andar armado. Por acharem que mulher tem que se dar valor. 
No tempo que eu fiquei reclusa, eu via pela cidade o movimento feminista tomando conta. Toda vez que eu passava por algum texto feminista colado em alguma parede, alguma frase grafitada, qualquer coisa, eu queria correr e achar o grupo que estava fazendo isso e pedir pra participar pois só consentir não era o bastante. Ainda espero encontrar essas pessoas.
E querem saber de uma coisa? Sim, eu sou virgem. Já tive chance de transar com mulher e com homem, mas eu não cheguei ao ponto da penetração, nunca consegui chegar a esse ponto. Tenho que trabalhar nisso também, e parar de mentir pra mim mesma que eu já perdi a virgindade. Até contava casos prx amigxs histórias que nunca aconteceram, ou que aconteceram, mas não chegaram ao final de contas.
Escrevendo isso eu vejo como todas nós mulheres temos muito em comum, todas temos uma luta eterna.
Eu luto com a minha mente o tempo todo pra seguir em frente, e o feminismo tem sido minha força, e o blog, meu refúgio.




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