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GUEST POST: O PESO DE SER VIRGEM
Lívia me mandou este relato:
Acompanho seu blog já há uns dois anos e gosto muito das temáticas abordadas. Posso dizer que hoje me vejo feminista devido ao seu blog. Muito obrigada por proporcionar tantas discussões importantes e que podem mudar a vida de muitas mulheres e homens por aí. Eu tenho tido a ideia de compartilhar uma experiência pessoal já há algum tempo, mas primeiramente pensei que poderia ser algo pessoal demais. Entretanto, cheguei à conclusão de que muitas mulheres podem ter sentido a mesma coisa que eu: o "peso" de ser virgem. Meu nome é Lívia (nome fictício), tenho 23 anos e perdi minha virgindade aos 22, mas foi um processo um tanto quanto árduo -- e negativamente marcante para mim -- ter a minha primeira relação sexual. Sempre quis perder a virgindade com alguém que eu confiasse ou me sentisse confortável. "Confiar" no sentido de que não queria alguém que abusaria de mim ou me desrespeitaria; "sentir confortável" seria sentir tesão e ter vontade de transar com a pessoa. Mas nunca pensei em necessariamente namorar a pessoa, e não era (nem sou) religiosa e nem moralista em relação ao sexo. Quando entrei na faculdade aos 19 anos eu pensava que teria a chance de conhecer muitos caras interessantes com quem eu poderia me envolver. O primeiro deles, logo no meu primeiro ano do curso, "terminou" comigo (na verdade, ficou com outra menina na minha frente) duas semanas depois de começarmos a ficar e de eu contar a ele que eu era virgem. No fim, achei que foi até bom, porque ele tinha sido um idiota ao terminar comigo ficando com outra. Eu tinha me livrado de alguém que poderia não fazer bem pra mim. O segundo cara por quem me interessei ficou comigo só uma vez e deu sinais de que queria sexo logo no primeiro encontro. Falei a ele que eu não queria e ele me perguntou o porquê. Respondi a ele que não estava a fim, não me sentia confortável ainda, e que eu era virgem. Não ficamos mais porque ele também passou a ficar com outra menina, e desencanei. Uma semana depois, minha colega de quarto que conhecia o rapaz contou que ele havia falado para os amigos que só não tinha transado comigo porque eu era virgem, passando a imagem de bonzinho da história e expondo minha intimidade publicamente. Eu fiquei possessa e chorei muito. Me arrependi tremendamente por ter falado que era virgem; pensei que poderia simplesmente ter falado que não estava a fim e ponto. Contei pra minha mãe a história e ela ficou muito brava comigo: "Você nunca fale pra ninguém que é virgem que as pessoas podem debochar de você", disse. Aí cheguei à conclusão de que eu só contaria que era virgem pro cara que eu tivesse a certeza de que queria transar, um cara no qual eu confiasse. Eu pensava que era importante contar porque também tinha inseguranças e medos em relação à primeira vez; queria que o cara fosse mais cuidadoso. Achava importante o cara saber, apesar de algumas pessoas falarem pra eu não contar e "deixar rolar". O terceiro caso foi o mais o mais sofrido. Ele era conhecido de uma grande amiga. Nós conversamos por mais de um mês na internet -- ele era de outra cidade -- e estávamos super a fim um do outro. Fui visitá-lo e nós ficamos e quase transamos no primeiro encontro. E eu realmente queria transar, porque me sentia a vontade, com tesão e confiava nele, mas ele não quis. "É cedo demais pra transarmos", de acordo com ele, e parou na hora H. Terminou comigo uns 20 dias depois falando que não tinha como ter um relacionamento a distância. Fiquei muito triste porque gostava dele, e na hora aceitei sua justificativa de término, mas acredito que no fundo o fato de não ter feito sexo ou de eu ser virgem novamente bateu na minha porta. Será que ele não quis transar porque eu era virgem? Ou porque ele estava inseguro? Fiquei um pouco frustrada por ter "passado vontade", porque havíamos tido muita química. Depois disso passei um ano sem me relacionar com ninguém, até encontrar o quarto cara. Começamos a sair, a ficar. Eu gostava muito do jeito dele: era carinhoso, atencioso, educado e conversávamos muito. Saímos uma vez, duas, três, quatro, até que um dia ele pediu pra eu pegar a camisinha. O medo apareceu instantaneamente na minha mente. Eu não estava preparada. "Será que ele vai terminar comigo se eu disser que sou virgem?", "será que ele vai achar ruim?" Eu engoli a seco, mas falei que não queria. Ele perguntou o porquê, e respondi que estava muito tensa e não estava preparada ainda. Falei que era virgem, mas o medo era maior do que isso: tinha medo de mais uma rejeição. Ele foi super compreensivo e legal comigo, disse que não tinha problema e que esperaria. Que ótimo! Eu fiquei mesmo feliz com isso e na hora foi legal, mas quando cheguei em casa chorei por ter contado. O medo de sofrer rejeição depois disso era grande. Infelizmente depois desse episódio nossa relação mudou completamente: ele não se mostrava mais entusiasmado quanto antes pra sair comigo e começou a se distanciar. Eu que ia mais atrás dele pra gente sair de novo. Ele disse que não queria nada sério porque ia viajar pra intercâmbio dali a seis meses. Um certo dia eu não estava à vontade para transar, mas transei. Foi como um "eu preciso me livrar desse peso", como se a minha virgindade fosse um fardo para meus companheiros e para mim. Como se aquilo fosse tornar as próximas relações mais fáceis, já que eu não seria mais virgem, mas não é bem assim. Foi um erro, porque doeu muito, eu estava muito tensa, e meu companheiro também. Depois descobri, por um amigo dele, que ele tinha medo que eu me apaixonasse, me apegasse, como se o fato de perder a virgindade com ele significasse isso. Só que acredito ser diferente: eu não era nenhuma menina, não era imatura, já tinha meus 22 anos. Era inexperiente em relação a sexo, mas só. Depois pude refletir que pra uma parte da sociedade ser virgem pode significar mulher inocente, frágil e suscetível a se apegar ao homem -- lembrando que isso se aplica só às mulheres; ninguém pensa assim de um homem virgem. Por isso também que alguns machistas dizem "curtir" virgens: elas são inocentes e bobinhas. Na cabeça deles, é claro. Sei que, dentro desses casos meus teve muita subjetividade envolvida e que é difícil avaliar todos precisamente, mas eu nunca deveria ter me culpado pelas coisas, e nem me forçado a fazer sexo pra me livrar de um peso. E, acredite, ele terminou comigo uns dias depois de transarmos. Só tive a chance de uma experiência, e foi muito ruim. Até hoje tenho muita vontade de sexo e ao mesmo tempo medo de fazê-lo. Acredito que nós mulheres não devemos nos reprimir por medo, mas ao mesmo tempo temos que estar atentas a todas essas visões internalizadas nas pessoas, porque a sociedade julga, e a gente consequentemente se julga também.
Meu comentário: Não se preocupe, não fique antecipando tanto a transa, que muitas outras experiências sexuais virão. E certamente serão melhores que esta sua primeira, e, até agora, única. Incrível isso. Vencemos (vencemos, né?) o tabu da virgindade feminina, mas a primeira vez ainda é importante pra um montão de gente. Quer dizer, mais do que a primeira vez, que parece ser um rito de passagem, a paranoia de se encaixar num padrão de normalidade é forte. As pessoas se preocupam se estão na "idade certa" pra serem virgens e continuam ficando ansiosas, como você ficou. E essa reação de alguns homens, de não querer ser o primeiro, de achar que a menina vai se apaixonar, é muito esquisita também. Por um lado ainda existem os machistas que veem "desvirginar" uma moça como um troféu, uma grande conquista. Por outro, os caras que não querem essa responsabilidade. É muita importância pra se dar pra um hímen. A idade certa pra primeira vez é quando você se sente confortável e pode agir com responsabilidade (usar camisinha, sempre). E a pessoa certa é aquela que te desperta tesão e na qual você possa confiar -- confiar no mínimo que usará camisinha, que respeitará o que você quer, que não te machucará. O resto é bobagem.
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