GUEST POST: PRINCESAS DIFERENTES NUMA SÉRIE DE TV
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GUEST POST: PRINCESAS DIFERENTES NUMA SÉRIE DE TV


Ísis me enviou este post sobre uma série de TV que eu não conheço, mas que parece muito interessante.

Quando li seu texto sobre garotas e princesas fiquei muito instigada, entrei em discussões sobre o assunto e sobre a maneira com que isso reflete no comportamento futuro de uma mulher. Mas, assistindo a uma série chamada Once Upon a Time (veja trailer legendado), tive um insight. Como nunca tinha parado pra perceber? Estou no 13º episódio da segunda temporada, e apesar de sempre me surpreender com o feminismo em tudo naquela série, só agora vi o tanto que ela é, na verdade, feminista, e girando sempre ao redor de princesas.
Explico. O que acontece é que a série conta a história de personagens de contos de fada que são amaldiçoados e mandados para uma terra sem finais felizes, a realidade. A protagonista é uma mulher forte e decidida, Emma, que assume o cargo de xerife da cidade, uma posição de poder pela qual ela luta bastante, o que eu logo achei o máximo.
A série sempre faz um paralelo entre o conto de fadas e a vida dos personagens amaldiçoados e agora sem memória, na realidade. Branca de Neve dá um show e sai da passividade tão comumente mostrada nos filmes e desenhos, e inclusive salva o príncipe, usa calças, e rouba, caça e usa armas. Ainda que houvesse uma inovação nela impondo sua vontade, nunca antes tinha visto uma série que de fato mostrasse em atitudes a autossuficiência feminina em uma era medieval.
Em Once Upon a Time, a passividade quase não acontece. Emma não demonstra dependência e nem buscar um casamento como forma de ter sentido na vida; ela luta pelo que quer e é uma personagem muito forte. 
Quando somos apresentados à Bela, ela é usada como moeda de troca em um acordo real com Rumpelstilskin e seu pai. Homens querem decidir o futuro de Bela, mas quando o noivo a empurra de lado, mostrando ao vilão que ela não irá com ele, ela se impõe e diz que o futuro é dela e que ela vai sim, para salvar a família. 
Chapeuzinho Vermelho tem uma vovozinha armada guardando a porta de casa para lutar contra o ataque do lobo, que mata inúmeros homens por noite no vilarejo, mas quem decide ir atrás dele para matá-lo e poder viver a vida que quer ter e não simplesmente ficar presa por medo de um lobo? Chapeuzinho Vermelho armada junto com sua amiga Branca de Neve. 
Achei engraçado que me surpreendi demais quando as duas estavam no quarto discutindo sobre o lobo e quantos caçadores ele já tinha matado, e as duas, numa amostra de cumplicidade feminina incrível, levantam-se e decidem lutar juntas. Acho que é o costume em ver sempre homens indo à luta nessas situações. E no final a ajuda vem da vovozinha armada pra selar o episódio, que teria spoiler aqui pela criatividade da autora, mas aproveito pra dizer: assistam, vale muito a pena!
Amizade e companheirismo entre as mulheres são muito ressaltados, fora que os cargos de poder (prefeita e xerife) são ocupados por mulheres. A série está fazendo um trabalho sensacional em usar uma coisa tão apelativa para garotas e mulheres como forma de mostrar um novo panorama do que uma mulher pode ser. 
Emma, a xerife, abandona seu filho para a adoção porque não se sente preparada para ser mãe, mas quando encontra uma moça que todos julgam incapaz de ter um filho, ela diz a ela que toda mulher que queira ser mãe deveria ter esse direito garantido, mostrando que tanto para um lado quanto para o outro, a mulher deve ter voz e decisão. 
Só achei ruim um episódio até agora, no quesito machismo: quando Branca de Neve é tachada de vadia para a cidade inteira por ter sido amante do príncipe encantado, enquanto ele saía imune. Fora esse episódio de slut shaming vergonhoso, é incrível como Once quebra vários estereótipos.
Tem muito essa coisa do bonding feminino, de juntarem-se na amizade. Branca de Neve oferece sua própria casa a Emma quando mal a conhece, e ela precisa de um abrigo. As duas se aconselham sobre seus problemas e quando a cidade toda se volta contra Branca, quem fica ao lado dela é sempre a Emma. Quando Chapeuzinho tem seu grande segredo revelado, Branca fica ao lado dela e a ajuda o tempo inteiro, sempre sendo compreensiva e nunca julgando a amiga, ajudando nas mudanças que ela passa. 
Chapéu, por sua vez, ajuda Branca quando ela vai resgatar o Príncipe, o que é outra coisa muito legal em Once: as mulheres salvam os homens com tanta frequência quanto os homens as salvam. Fora que em muitos episódios mulheres salvam mulheres também, mesmo quando tem algum homem por perto.
Na segunda temporada somos apresentados a Mulan e Bela Adormecida, ambas apaixonadas pelo mesmo príncipe, mas ainda assim, tornam-se amigas e companheiras de luta ao invés de lutarem por algo infrutífero. Mulan a protege e ajuda a passar pelas empreitadas e aventuras com as outras princesas, que enfrentam gigantes e uma floresta perigosa sem a ajuda de nenhum homem. 
Bela Adormecida ainda é uma personagem bastante comum de princesa mais passiva, mas ainda assim enfrenta isso e vai à luta de sua própria maneira. É muto diferente ver uma mulher na cama com o Príncipe Encantado sem mostrar vergonha quando os dois são surpreendidos, e ainda se dispor a lutar quando chamam o herói. Ainda me resta um pouco de esperança que as coisas comecem a mudar.
Espero ver mais séries que me surpreendam tão positivamente, que com exceção do episódio em que Branca de Neve é chamada de tramp [vagabunda], não usa nenhuma palavra que denota crítica à sexualidade feminina (corrijam-me se estiver errada, mas não lembro ter visto nem mesmo um bitch, vadia) e mostra mulheres fortes e capazes, com voz ativa e papéis tão não convencionais. 
Assistam Once Upon a Time. Espero que se surpreendam tanto quanto eu. Que ser princesa possa abranger matar dragões, carregar armas e sair sozinha na floresta pra lutar. Que a gente veja mais séries que tragam papéis em um rumo muito diferente das princesas passivas e quietas que esperam por ter seus futuros decididos.




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