A VIDA PASSA DIANTE DE SEUS OLHOS
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A VIDA PASSA DIANTE DE SEUS OLHOS


Eu sempre adorei Beleza Americana. Entra na minha lista dos melhores da década de 90. Mas ele teve uma recepção esquisita. A princípio, um monte de críticos o amaram. Só que, pouco tempo depois, e sem grandes explicações, mudaram de ideia. E gente que o considerou ácido e revolucionário à primeira vista passou a vê-lo como solto demais, do tipo “qualquer interpretação é possível”, inclusive leituras machistas.
Ok, entendo isso. O filme tem um pouco de narração em off (só no começo e no final) por parte do protagonista, Lester Burnham, que é um homem branco hétero e de classe média. Tudo dentro do padrão, só que ele está em crise de meia idade. Odeia o emprego, se dá mal com a esposa e com a filha Janie, e começa a desejar, bobamente, a melhor amiga adolescente da filha, que faz a típica cheerleader das fantasias porn. O próprio nome de Lester é um anagrama de “Humbert learns”, fazendo referência ao narrador e protagonista de Lolita. Mas o que Humbert aprende? Que não deveria babar por lolitas?
Então isso tudo é meio dúbio. E Carolyn, esposa de Lester, não sai bem na foto (sem falar que conheço um bocado de gente que não entende o final e acha que ela atira no marido). Mas o filme é uma crítica ao sistema, à tentativa de manter as aparências, a todo um american way of life que é como a rosa da capa -– linda, mas sem perfume.
E, sinceramente, tem como não amar um monólogo poético como este do fim? (veja aqui; minha tradução muito falha). Se vc ainda não viu Beleza Americana, faça o favor de ver. Se já viu, reveja.  
Eu sempre tinha ouvido que sua vida passa diante de seus olhos um segundo antes de vc morrer. Em primeiro lugar, esse segundo não é um segundo, ele dura uma eternidade, como um oceano de tempo. Pra mim, foi deitar na grama durante acampamento de escoteiros, vendo as estrelas cadentes... E folhas amarelas das árvores que cobriam minha rua... Ou as mãos da minha avó, o jeito como sua pele parecia papel... E a primeira vez que eu vi o carrão novo do meu primo Tony.... E Janie... E Janie... E... Carolyn. 
"Acho que poderia estar bem furioso com o que aconteceu comigo. Mas é difícil ficar zangado quando há tanta beleza no mundo. Às vezes eu sinto como se estivesse vendo tudo de uma vez, e é demais, meu coração se enche como um balão que está a ponto de explodir. E aí eu me lembro de relaxar, de parar de me prender, e aí tudo isso passa por mim como chuva e eu não posso sentir nada além de gratidão por cada momento da minha pequena vida estúpida... Você não faz ideia do que estou falando, eu sei. Mas não se preocupe... Você fará um dia.
Desde que vi o filme pela primeira vez, eu fico pensando o que passaria na minha cabecinha um segundo antes de morrer. E será que isso se refere a todas as mortes, naturais, acidentais, violentas? Até minhas últimas cenas eu quero planejar.




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