DA VEZ QUE ESCAPEI DE UM LINCHAMENTO – PARTE 3 - FINAL
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DA VEZ QUE ESCAPEI DE UM LINCHAMENTO – PARTE 3 - FINAL


(Pra não boiar, leia os dois posts anteriores antes, aqui e aqui).

A crônica “Receita de Biscoito” foi o meu jeito de tentar encerrar o escândalo por eu ter escrito sobre o estágio. Acho que não deu muito certo, porque no dia em que ela foi publicada eu estava na minha classe, durante o intervalo, lendo um livro calmamente, quando ouvi muito barulho vindo do lado de fora. Vozes, gritos, vaias. Uma colega entrou na sala, olhou pra mim e disse, em pânico: “Não se preocupe que não vamos deixar eles entrar!”. Outra, uma gordinha, chegou despenteada e assustada: “Ahhh! Eles pensaram que eu era você e tentaram me pegar!”. Àquela altura vi que não daria pra ignorar os acontecimentos, e quis saber “Ahn, eles quem?”. “Eles” era a turma inteira do semestre anterior de Pedagogia reunida no corredor do lado de fora da minha sala, organizando um linchamento, gritando palavras de ordem como “Lola, Xô, Fora!”, e me xingando. Professoras e seguranças tiveram de dissipar a turba enraivecida, e eu, claro, fui chamada novamente à diretoria.


Coordenadora do curso: “Tá vendo o que você fez? Mais um texto seu e a gente vai ter que te expulsar mesmo!”.
Eu: “O que eu fiz? Um grupo de futuras professoras se organiza pra linchar alguém por causa de um texto de jornal e você tá preocupada comigo? O pior é que essa turma me conhece. Eu dei uma palestra de história política pra elas”.
Ela: “Pois é, o desapontamento delas deve ser maior ainda”.


Naquele dia uma colega amiga me acompanhou até o carro. E eu decidi, mais tarde, tirar meu adesivo do Lula do carro, pra evitar que ele fosse identificado e, quem sabe, vandalizado. Depois a coisa morreu, felizmente, e eu pude terminar meu curso sem grandes problemas. Se bem que tive de refazer em outra escola todo meu estágio da primeira série porque a professora retratada na crônica (a que me pediu pra descascar um abacaxi – é só isso que eu falo dela!) se recusou a assinar meus documentos de estágio. Ela disse, seriamente, que quase teve de ser internada por uma crise de nervos após a publicação do texto, mas que graças a Deus ganhou a solidariedade de todas as suas colegas, então conseguiu superar este trauma terrível na sua vida. Note que na crônica “Estágio Sabor Abacaxi” não há qualquer menção ao seu nome ou à escola. Mas certamente ela deve ter sido a única professora primária na história da humanidade a fazer uma salada de frutas com seus aluninhos, e por isso a identificação foi tão fácil.
Menos de um ano depois de todo esse escândalo, fui fazer o Provão de Pedagogia e reencontrei minhas ex-colegas da Univille. Todas me cumprimentaram como se fossemos grandes amigas. Ao mesmo tempo, a versão que corria era que eu havia sido expulsa da Univille. Não é que eu me transferi pra outra faculdade pra economizar tempo e dinheiro, sabe? Eu fui expulsa! E até compreendo que as turmas quisessem clarificar publicamente, através de cartas de jornal, que eu não representava o grupo. Mas não gostei de ter sido descrita nas cartas das duas turmas como “esse tipo de aluna”. “Esse tipo de aluna” não queria seguir carreira em Pedagogia, mas não atrapalhava ninguém e até ia bem no curso. Me senti levemente vingada quando “esse tipo de aluna” tirou a maior nota de Joinville no Provão de Pedagogia. Ironias do destino.
Mas juro que não guardo rancor de ninguém. Sempre que me encontro com ex-colegas de qualquer uma das faculdades, o papo de “Tudo bem? Há quanto tempo! Como vai?” é sincero. Porque imagino que praticamente todas as colegas, individualmente, teriam vergonha daquela reação exagerada a um texto de jornal. O problema é a histeria coletiva. Quando um grupo todo se junta, sai de baixo. Seria ótimo se esse poder de mobilização fosse usado pro bem, não seria?




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