GUEST POST: MEU RUMO PARA A AUTO-ACEITAÇÃO
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GUEST POST: MEU RUMO PARA A AUTO-ACEITAÇÃO


Por que as mulheres ainda têm problemas horríveis com seus corpos?

Depois de ler o guest post sobre como aprendemos a nos odiar, a Lê decidiu me mandar seu relato, que publico aqui. Tenho certeza que muita gente vai se identificar.

Eu fui uma criança
gordinha. Tive vários tipos de apelidos, mas os que eu lembro são Free Willy (que o menino que eu era apaixonada na 3ª série apelidou) e de certa vez que eu fui com uma blusa toda colorida pra escola (que eu adorava) e ficaram cantando "elefante coloriiidoooo...que cooor?"; parei de usar a tal blusa após esse ocorrido. Eu me sentia mal, mas nem por isso pensava em dietas, afinal, eu tinha uns 9 ou 10 anos. Continuava a comer minhas bolachas Trakinas e meus salgadinhos Fritex. Eu brincava bastante também, corria, andava de bicicleta... mas era gordinha. Desde meus 9 anos eu não tenho um peso ideal. Hoje, com 24, tenho o que chamam de sobrepeso: não sou gorda, mas não sou magra. Tenho aquela barriguinha de chopp, sem tomar chopp, sabe?
Na minha adolescência eu passei a usar camisetas largas e pretas, com nomes de bandas de rock. Alguns da escola especulavam que eu seria lésbica, pois com uns 15 anos nunca tinha beijado um garoto. Eu me sentia desconfortável em ser chamada de "sapatão", até porque nem sabia direito do que se tratava, mas percebia que quem chamava usava sempre como uma forma de ofensa.
Eu era aquela que os garotos gostavam de conversar e quando chegavam muito perto era para dizer "e aquela sua amiga?". Meu primeiro beijo foi aos 16 anos, com um cara que conheci pela internet. Mesmo cara que quando viu uma amiga minha, quis ficar com ela, sem ressentimento algum se tinha me beijado ou não.
Acredito que os anos de apelidos sobre o meu corpo me fizeram ser vulnerável aos homens.
E também tinha (e tem) outro fator: meus braços tem uma quantidade considerável de pêlos. Na 7ª série, me chamavam de lobisomem e uivavam na sala de aula por causa disso. Eu me sentia muito mal, mas me fazia de durona e sempre respondia. Porém, por um bom tempo fui à escola somente de blusas de manga comprida, mesmo nos dias mais quentes do verão.
Então eu era peluda, gorda, usava aparelho nos dentes, óculos e ainda era tímida.
Devido a ter sido bem gordinha quando criança, eu desenvolvi estrias. E não foram poucas: nas pernas, nos braços, nos seios e na barriga. As que eu mais odiava eram as da barriga e as dos braços. Na realidade, quando elas apareceram (eu tinha uns 12 anos) eram rosas bem fortes e eu achava que era do corpo, que com o tempo sumiriam. Esse era outro fator de vergonha em mim. Nunca, em 24 anos de vida, eu usei um decote (hoje em dia eu não sinto falta, não me sentiria à vontade).
Lembra que eu disse que usava roupas com estampas de bandas de rock? Isso me deu uma identidade, uma muleta, eu diria. Eu me sentia especial em conhecer determinadas bandas, o que melhorou minha autoestima. No entanto, com meu primeiro namorado ficou bem claro que eu ainda tinha muita vergonha de mim mesma. Eu não diria que eu tinha ódio, mas vergonha. Esse namorado dizia com todas as letras que eu tinha que fazer dieta, que determinado jeito que eu me posicionava não ficava bom, pois evidenciava minhas gordurinhas, e outros comentários do gênero. Eu me sentia mal, mas achava que ele era o amor da minha vida, então relevava. Quando terminamos (pasmem, um ano e sete meses depois) eu percebi o quão tola eu fui, porque ok, ele estava extremamente errado com o que fazia comigo, mas eu estava mais errada ainda, pois além de permitir, continuava com ele.
Até um tempo atrás, eu não comia na frente dos outros. Se precisava comer, era quase uma tortura, pois eu pensava que as pessoas ficavam imaginando "Lá vai ela comer, por isso que tá desse jeito".
Fiz várias dietas, de vários tipos. Gastei mais de 2 mil reais em tratamentos estéticos, que envolviam uma dieta rigorosa e restritiva, com aplicação de agulhas pelo corpo. Deu resultado? Sim. Durou? Não.
Meu sonho, por muitos anos, era ser magra. Não ter que imaginar o que iriam pensar de mim quando eu entrasse em um recinto... porque sim, quando eu ia a algum local diferente, a primeira coisa que vinha à cabeça era "estão falando que eu sou gorda". Eu me policiava muito ao falar para não passar a imagem da "gordinha-monga-legal".
Quando eu via alguma mulher gorda (ou gordinha) namorando, eu pensava como ela fazia para se relacionar com ele, porque aquilo para mim, era surreal... Imagina! Ficar nua na frente de um homem, e com a luz acesa... Como ela fazia? Na verdade eu sempre admirava mulheres assim, que independente da forma física, tinham uma presença de espírito maravilhosa. Eu pensava a mesma coisa: "Como ela consegue?".
Hoje eu tenho minhas neuras, mas duas coisas me ajudaram a melhorá-las muito: um livro e o feminismo.
O livro foi o Comer, Rezar, Amar. Não importa o que falem sobre ele, essa leitura me ajudou muito a pensar sobre quem eu sou e o que eu fazia com a minha vida. Passei a prestar mais atenção no meu bem-estar, a colocar na cabeça que se alguém fala que eu sou feia, ou gorda, ou qualquer outra coisa, o problema é dessa pessoa, que tem uma mente pequena, que julga as pessoas pelo peso ou aparência. Por que eu iria continuar deixando estranhos dizerem o que eu sou? Eles não me conhecem! Eles não têm o direito. Eu sou muito mais que minhas estrias ou minhas sardas. Eu sou um ser cheio de experiências.
Devo dizer que sou um tanto quanto desastrada e era dura demais comigo mesma quando eu esbarrava em algo, ou falava alguma bobagem. Hoje eu penso "Eu sou assim. Pelo menos nesse momento, eu sou assim e é o que eu tenho a oferecer e ponto" e com esse mantra passei a me aceitar melhor, seja pelo peso, pelo cabelo, por ser desastrada ou pelos pêlos dos meus braços.
E o feminismo? Eu achava que era um movimento em que as mulheres lutavam contra os homens. Quando descobri o seu blog, li vários posts e me interessei em saber mais sobre o assunto, descobri outros blogs e vi um mundo totalmente diferente do que eu imaginava. Vi que o feminismo luta pela igualdade dos gêneros, que luta por um mundo sem padrões, sem injustiça e nossa, aquilo me encantou! Foi como um empurrão para me sentir melhor, para ver que sou dona de mim mesma, que não é porque na revista tem uma mulher escultural, que eu tenho que ser igual ou que somente aquilo ali retratado seja beleza. Existem outras formas de beleza.
Outro fato que me ajudou foi meu namorado, foi poder ser eu mesma, com meu corpo e cada detalhezinho dele, sem que eu tivesse que ouvir piadas ou comentários maldosos. Sabe o que é você ficar nua na frente de um homem sem ter que apagar a luz? É libertador. E é melhor ainda quando esse homem te ama do jeito que você está ali para ele. Então também aprendi que existem homens e homens. Pessoas e pessoas... Algumas irão te julgar pela aparência, e outras vão gostar de você pelo conjunto completo.
Hoje eu lido bem com as minhas estrias. Antes eu nem gostava de olhar para elas. Algumas, em determinados locais, ainda me incomodam, mas não me fazem o mal que faziam antes; Eu sei que não estou com meu peso ideal, mas nem por isso vou deixar de tomar um sorvete se me der vontade, independente da quantidade de pessoas a minha volta; Quando alguém faz algum comentário sobre os pêlos nos meus braços, eu dou uma risada e falo "pois é", de modo que ao invés de eu sentir um desconforto, a pessoa que fez o comentário infeliz se toca. Se antes eu sonhava em ser magra pelos outros, hoje eu tenho como objetivo me alimentar corretamente (por ser necessário, pois pasmem: tenho pressão alta), para ter uma saúde melhor.
Percebi que viver de acordo com comentários de outras pessoas, que nem me conhecem, que vivem julgando e menosprezando o próximo, não era o caminho de ser feliz. E olha, eu prefiro mil vezes alguém que ilumine uma sala pela personalidade que tem, do que só a enfeite com o corpo que carrega.




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