GUEST POST: O FEMINISMO ME LIBERTOU DA CULPA
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GUEST POST: O FEMINISMO ME LIBERTOU DA CULPA


A R. (não é nem sua inicial verdadeira), hoje uma importante ativista feminista na internet, decidiu relatar sua história de horror. 

Há quinze anos...
Era uma noite quente, uns amigos iriam tocar num bar, fui prestigiá-los. Um dos amigos que estava tocando me apresentou seu melhor amigo, que ficou me fazendo companhia no bar. No meu copo havia cuba libre. Eu não misturava bebidas justamente para não ficar bêbada, sempre odiei perder o controle da situação, mas não foi assim naquela noite.
Fui ao banheiro e quando voltei o amigo havia me feito uma gentileza e pedido outra cuba libre para mim. Na metade da dose me sentia estranha, meio flutuando... 
Falávamos de música antes de eu ir ao banheiro, e ele havia dito que no porta cds do carro dele havia o cd de uma banda que eu gostava muito, e que ele me emprestaria. Ele me pegou pela mão e disse "vamos lá pegar o cd". Mesmo receosa, eu não conseguia reagir. Ele me levava e eu ia com ele como se não houvesse nada que eu pudesse fazer.
Quando chegamos ao carro ele abriu a porta do lado do passageiro e me fez sentar, dizia "Você está bem? Parece meio longe". Mas ele disse isso e começou a me beijar e se colocar em cima de mim. Disse a ele várias vezes: "Não, eu não quero, pare por favor" mas não havia forças em meus braços para empurrá-lo e nem impedi-lo.
Lembro de ouvi-lo dizendo coisas nojentas, pornográficas. Lembro dele dizendo que eu não precisava me preocupar porque ele não havia gozado dentro: "não quero engravidar nenhuma vadia", disse ele.
Ele passou para lado do motorista e ordenou: "se arruma e desce".
Atordoada, sem saber direito o que estava acontecendo, era assim que eu me sentia, consegui sair do carro, ouvi o barulho do motor, ele arrancou e sumiu. 
Sentada na calçada comecei a chorar. Algumas pessoas passavam por mim mas não se aproximavam; afinal de contas, era só uma mulher que havia bebido demais tendo um crise de choro.
Durante anos fiquei me culpando, pensava "isso que dá beber" ou "por que você foi praquele carro?" ou ainda "ele achou que seu não era um sim porque você estava bêbada e não soube se expressar com convicção".
Hoje eu sei que ele sabia exatamente o que estava fazendo. Aproveitou-se da minha fragilidade, ignorou meus "nãos" e fez uso do meu corpo como quem usa um objeto e depois descarta. E para finalizar ainda disse como se sentia a respeito daquilo, quando ele me chamou de vadia, o que ele quis dizer foi que eu era só mais uma mulher "que não se dava ao respeito". E isso justificava ele fazer o que bem entendesse, não só comigo, mas com qualquer mulher que não estivesse dentro dos padrões que ele aceitava como "mulher para namorar".
Nunca mais o vi depois deste dia. Passei quinze anos sem saber que aquilo havia sido um estupro, achava que não. Até que em contato com o feminismo descobri que era. Consegui superar. Minha experiência vai ajudar outras mulheres a identificar canalhas como ele e se forem vitimas, saberem-se vítimas.
O feminismo me deu consciência de que fui vítima, de que não provoquei a situação, de que eu era apenas uma mulher, curtindo a noite em um bar, com sua dose de cuba libre, e ele mais uma machista, que adulterou a bebida que me ofereceu, para tirar proveito de forma criminosa da situação.

Aproveitando, mesmo que isso não tenha muita relação com o relato da R., que não aconteceu numa universidade.
Algumas estatísticas de estupro sobre abuso sexual em universidades (americanas)
Entre uma em cada três e uma em cada cinco mulheres jovens será vítima de alguma forma de violência sexual enquanto estiver na universidade.
85% dos abusos sexuais são cometidos por conhecidos.
O álcool é a droga predatória número um nos campi universitários.
Menos de 2% das denúncias de estupro são falsas. Mais gente finge sua própria morte do que mente sobre ter sido estuprada.




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