NÓS SOMOS MELHORES QUE ELES
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NÓS SOMOS MELHORES QUE ELES


Eu odeio ver gente de esquerda escrevendo ou falando coisas preconceituosas. Não sei, mas eu realmente acredito no título do post que pus aí em cima. Vamos deixar que a direita tenha o monopólio da estupidez.
Esses dias, li um post do Gilvan, do Terror do Nordeste, em que ele comentava sobre vários nomes do PIG (Partido da Imprensa Golpista). Quando foi falar do abjeto blogueiro da Veja, Gilvan escreveu “Reinaldo Cabeça Furada Azevedo”. Hmmm... Olha, não é que eu esteja numa cruzada politicamente correta. Eu raramente comento em blogs alheios, ainda mais se for pra criticar. Mas deixei uma mensagem pro Gilvan dizendo que a gente, que é de esquerda, não deveria se portar assim. Que é revoltante ler blogs de direita chamando a Dilma de “dama de peruca”, expondo sua insensibilidade com milhões de vítimas de câncer que fazem quimio e perdem o cabelo. Ou fazendo troça com o fato do Lula não ter um dos dedos. É preconceituoso enfatizar um defeito físico de alguém. Aliás, qual a importância da aparência física de alguém no embate de ideias? Exatamente nenhuma. Logo, não deveríamos mencionar a doença do tio Rei. Simplesmente não é relevante, e pega mal pra quem se preza por ser humanista. Gilvan foi humilde e respondeu: “Lola, você está certa. Prometo não mais repetir. Abraços”.
Ninguém gosta de ser pego com a boca na botija. Ninguém quer que lhe seja apontado um preconceito. Mas é a nossa chance de crescer, ué. De melhorar. De evoluir. Só porque alguém faz uma piadinha racista, por exemplo, não quer dizer que a pessoa seja racista. Quer dizer que foi racista naquele momento. É só pedir desculpas, não fazer de novo, e bola pra frente. Mas é preciso a humildade que Gilvan mostrou pra reconhecer que esteve errado.
Na mesma semana, me incomodei com o que o Marona falou sobre o caso Uniban. Revoltado com a reação da turba, como todo mundo, ele apelidou de “viadinhos trogloditas” o pessoal que quase linchou a Geisy, e chamou “o crescente horror dos homens às mulheres” de “ideologia gay”. Eu não me contive e reclamei: “"Ideologia gay", Marona? O que os gays têm a ver com essa história toda? Eram homossexuais gritando "puta! Puta!" ou eram héteros? São gays que estupram mulheres? São gays que espancam suas esposas? Assim fica fácil 'resolver' o problema: é só livrar a cara dos culpados. É o que a Uniban fez, e o que vc, indiretamente, está fazendo. Atacando uma minoria que não tem nada a ver com o caso para não falar dos verdadeiros culpados”. Pô, nessas palavras usadas, qual a diferença entre o Marona e esse pessoal preconceituoso que se refere à Uniban como Unibambi? Ele não gostou, e respondeu: “Eu não sou homofóbico, Lola. Mas sei o quanto babacas como os compradores de diploma da Uniban se ofenderiam sendo chamados de viadinhos. O machismo deles não suporta este tipo de 'acusação'. Se ofende, então eu uso. Não seja tão séria assim, Lola. Procure homofobia onde ela existe. Ou procure me conhecer melhor antes de me chamar de homofóbico. Fale com quem me conhece e eles vão dizer que eu sou um sacana do caralho que não está nem aí para essas 'viadagens' politicamente corretas”. Certo. O mesmo discurso da direita: vivemos num mundo politicamente correto demais, quem não aceita uma piada é porque não tem senso de humor, blá blá blá. Pode-se tudo em nome da diversão. E eu fico aqui, posando de rabugenta carola, sendo que o meu bloguinho nem é lá muito sério. Mas pelo menos se esforça pra não ofender minorias.
Acho que todos poderíamos aprender com o Eduardo Guimarães, do Cidadania, um dos blogueiros mais éticos que há. Nem sei direito o que ele fez de errado. Eu só vi o seu post de desculpas, não o anterior, que gerou as desculpas. Acho que ele publicou em seu blog uma fotomontagem da ex-secretária da Receita Lina Vieira, com o rosto dela e o corpo de alguma coelhinha da Playboy. Eu nem sei as críticas que ele recebeu por isso (que não me parece tãããão grave). No entanto, em agosto ele escreveu, sob o título “Benditos Críticos”: “Eu, que sempre recrimino quem ataca mulheres valendo-se da secular patrulha masculina – e feminina – à sexualidade delas, fui hipócrita, ainda que inconscientemente, ao reproduzir aquele lixo em meu blog. Há muito pelo que atacar a ex-secretária da Receita. [...] Mas não é cabível descer ao ponto que desci. Fiquei chocado com o que fiz”. É um post imenso e até meio exagerado se comparando com Dorian Gray, aquele que não se reconhece ao se ver no retrato: “Só posso pedir desculpas aos que não foram poupados de ver minha imagem distorcida por mim mesmo e prometer que terei mais cuidado com os demônios que, como a todos nós, espreitam-me a alma em busca de meu menor descuido. E aos que me criticaram, mesmo com virulência, agradeço de coração o que fizeram”. Achei sua atitude louvável, porque é raríssimo alguém pedir desculpas por algo que escreveu. O ego não deixa.
E estão vendo a diferença? Os leitores do Cidadania, na sua maioria de esquerda, criticaram a postura machista do autor naquele episódio isolado. A esquerda tem esse cuidado em não espalhar preconceitos. Não sei se os leitores do tio Rei chamam sua atenção quando ele fala uma de suas inúmeras besteiras (outro dia ele escreveu que foi ele que fez a Uniban revogar a expulsão de Geisy). Não dá pra saber, já que ele não publica críticas. Pelo menos ele explicou que não é que censura vozes discordantes. Ele apenas exclui “quem diverge da civilização”. Cuma?
Definitivamente, nós somos melhores que eles.




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