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PAI E NAMORADO PERPETUAM O MACHISMO. COM A AJUDA DA MÃE
A Andrea, uma aluna brilhante que faz mestrado na UFSC na mesma área que eu, num outro post escreveu um comentário muito interessante, que eu decidi transformar num guest post com a sua autorização. O texto trata de vários pontos que ainda não discutimos, como a responsabilidade das mães na criação dos filhos, e a diferença de tratamento recebido pelo filho e pela filha. Essa diferença é também uma forma de violência. É altamente repressor ensinar que a menina deve dedicar-se aos afazeres domésticos e ficar em casa, com medo de sair à rua, enquanto o menino pode tudo, e não tem nenhuma obrigação de cuidar do lar. O menino que joga as roupas no chão pra sua mãe recolher e lavar vai continuar fazendo isso com a esposa. Ele é criado achando que é o rei do castelo e que terá sempre uma mulher para lhe servir. Eu lembro sempre de uma deturpação que as feministas dos anos 70 criaram para um velho ditado: "If a man's home is his castle, let him clean it" ("se o lar de um homem é seu castelo, deixe que ele o limpe"). Mesmo quando os filhos crescem, eles seguem tendo tratamento diferenciado de acordo com seu gênero. Uma amiga minha, lésbica, revolta-se até hoje ao lembrar que, quando seus pais, ainda em vida, foram fazer a divisão de bens entre os filhos, deixaram quase tudo para seu irmão. A explicação? Ela não precisava de um apartamento, porque é mulher (e mulher deve encontrar seu provedor para sobreviver), e por ser lésbica - ela não iria constituir família mesmo, então dinheiro pra quê?Tenho certeza que você conhece vários casos do tipo. Leia o relato da Andréa, e compartilhe aqui como você foi ou é discriminada(o) em casa. Muita culpa do machismo é sim das mães. Aquela mãe que exige que a filha arrume a cama e o filhinho não. Que pede às meninas para pôr a mesa e lavar a louça enquanto os guris jogam video game. Cresci num lar com idéias bem patriarcais. Minha mãe sempre lutou pra ter seu dinheiro, mas quando parou de trabalhar (com a desculpa de cuidar da casa), ela se apagou. E a que antes vivia a dividir o mando da casa com meu pai, passou de uma hora para outra a tolerar humilhações.Lá em casa meu irmão sempre teve tv a cabo no quarto e a TV dele era melhor do que a minha. E olha que ele é mais novo; se fossemos considerar o direito de primogenitura eu teria que ter essas coisas primeiro, pelo menos. Enfim. Ganhei um computador em vez de uma festa de quinze anos (porque meus pais nao tinham grana para bancar os dois), mas ele nunca ficou no meu quarto. Ano passado (eu estava com 23 anos), meu pai comprou um notebook, com a desculpa de que ele precisava de um (aff, meu pai só usa computador para jogar freecell e checar email). E quando vi, meu irmão já estava com o notebook em seu quarto e levando para a faculdade como se fosse seu. Ele faz Ciências da Computação, e aí também entra o preconceito contra o curso de Letras e a área de Humanas em geral. Perguntei ao meu pai se eu então poderia trazer o computador "familiar" (que se supunha que era meu) para o meu quarto, e ele simplesmente disse não. Quando questinado o motivo, ele simplesmente se negou a dialogar. Quer saber? Chorei um monte neste dia, mas dei um basta: saí de casa. Tudo bem, vim morar com meu namorado, que infelizmente foi criado muito mimado por sua mãe, e com privilégios praticamente dignos de rei. Digo isso porque meu namorado manda mais na casa dos pais dele do que seu próprio pai. Quando começamos a morar juntos, no início deste ano, eu era praticamente uma empregada. Óbvio que pensei em largar mão deste outro machista, mas foi só ameaçar largá-lo e expor a ele que esse tipo de tratamento eu não iria tolerar, que ele acabou se conscientizando que precisaria mudar. As mudanças ainda são poucas, é verdade, mas cada dia ele tenta melhorar um pouquinho, o que me faz ao menos tentar acreditar que sim, é possível ser homem e respeitar as mulheres. Os homens que não são machistas não precisam ter vergonha por terem nascido em um grupo onde a maioria é machista. Vergonha tenho eu, por ser mulher e saber que uma mulher colocou um machista no mundo. E não só porque colocou no mundo, mas porque o criou machista assim. Meu maior anseio como mulher não é ter filhos, mas sim ser uma mãe capaz de criá-los de uma forma a respeitar o seu próximo, independente de sexo, cor, visão política, religiosa, ou qualquer outra coisa. Outros guest posts aqui: Cavaca explica como são as gorjetas em Portugal e narra alguns "causos", Cris diz como escapou da morte quando foi anoréxica, Patricia ri da cara das dietas, Vitor fala como foi ser garçom num hotel de celebridades, Tina aponta o desrespeito, Taia conta sua história de horror, Marjorie fala sobre jornalismo, e Gio sobre a ditadura militar, aqui e aqui. Quer participar? Relate a sua experiência.
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